quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Um pastor deveria se filiar a um partido político?

O que é um partido político?

Um partido político representa o desejo e a visão de um determinado grupo de pessoas da sociedade. Reúne pessoas que assumem uma ideologia em comum. Alguns pontos são centrais quando nos referimos ao partido político. Destaque para seu caráter associativo, a disputa pelo poder político em uma sociedade e, as motivações que levariam alguém a se filiar e disputar posições. 

Os partidos políticos, assim, numa realidade de política institucional e disputa de poder político para cargos de governo, possuem forte influência. Por seu caráter representativo dentro de um contexto democrático, um partido político é visto como uma organização que defende a visão e os interesses de uma parcela da população. Como os interesses e as visões de mundo divergem, é natural que haja diferentes partidos propondo-se a defender diferentes interesses.

Com base nesta resumida definição, poderíamos afirmar que quanto um pastor ou um padre se filia a um determinado partido político ele está explicitando sua preferência político-partidária e, até mesmo, ideológica. Isso, por si só, já constitui potencial de crise numa igreja considerando o caráter plural de uma comunidade ou membresia. Por mais aberto, democrático e tolerante que este líder religioso seja, foge ao seu controle o fato de que as pessoas passarão a julgá-lo segundo seus próprios compromissos políticos e ideológicos. 

Cada vez que um pastor sobe ao púlpito para pregar é necessário lembrar que o público diante de si é composto por uma pluralidade de ideias e posições. A partir do momento em que o pastor assumiu um determinado partido, uma divisão já se instala na comunidade. Admitimos que isso pode variar de acordo com o grau de consciência e engajamento político de uma comunidade de fé. O compromisso político ideológico de cada membro ofuscará a mensagem anunciada. A tendência, como é sabido, é simpatizarmos com aqueles que compactuam com a nossa visão de mundo. E, no contexto da disputa político partidária, no outro partido estão os adversários. 

Ao pastor, em sua defesa, cabe o argumento de que optou pelo melhor partido, por aquele que, em seu entendimento, mais se aproxima de uma causa, digamos, cristã, ou de justiça. Mediante isto, porém, ouvirá acusações e desmentidos de militantes de partidos concorrentes que reivindicam para si e sua sigla as mesmas virtudes. Quem, afinal, declararia simpatizar com um partido tirano, injusto e coisas do tipo? 

Antes de representar os interesses de um determinado grupo de cidadãos, um pastor se apresenta como uma pessoa vocacionada por Cristo e a Igreja para uma função específica: pregar o Evangelho e administrar os Sacramentos. Mediante isto, a serviço da missão de Deus, não cabe qualquer partidarismo ou discriminação quanto às pessoas em geral. 

Ademais, caberia ainda a pergunta pelo motivo que levaria um pastor a se filiar a um partido político. Pois se tiver clareza de sua vocação enquanto ministro religioso à serviço da Igreja de Jesus Cristo, onde mais terá, diante de si, público tão carente, tão plural, tão amplo em possibilidades a quem servir e amar? Por outro lado, caso sinta-se confuso em sua vocação, imaginando se não deveria adentrar também a carreira política de forma mais engajada, o que o impediria de fazê-lo? Nenhum impedimento desde que tenha clareza e liberdade para fazer a sua escolha. 

Muitos pastores certamente dariam bons representantes nas mais diferentes esferas de governo. A política é, sem dúvidas, um campo que requer bons representantes. É uma vocação legítima. Para isso, no entanto, deveriam respeitar os membros da igreja e os cidadãos em geral e abrir mão do ministério eclesiástico. Uma vez na política, passam por representantes de determinados segmentos da sociedade. Não gozarão mais da unanimidade (embora precária) de uma comunidade cristã. Ao fazê-lo, se afastarão também de outra tentação que consiste em instrumentalizar a igreja para os seus próprios fins políticos. Devem abrir mão, também, do título do qual tanto se orgulham, por vezes. Um vereador, um deputado ou prefeito não é chamado a pastorear, mas a legislar e gerir sobre o erário público. 

Afinal, 
um pastor deveria se filiar a um partido político?

A resposta, portanto, para a nossa pergunta, é NÃO. Um pastor, no exercício de sua função pastoral, estando a frente de uma igreja, não deveria se envolver abertamente com a política partidária. Caso a pregação da palavra chegue a causar alguma divisão, esta é uma possibilidade bíblica (Lucas 12.51-53). A divisão causada por partidarismo e politica se assemelha mais ao escândalo que, na igreja, somos aconselhados a evitar (2 Coríntios 6.3). 

Que fique claro ainda não tratar-se de uma proibição. Não estamos, de modo algum, sugerindo que esta deve ser uma questão do tipo 'pode' ou 'não pode'. Embora as denominações, enquanto instituições religiosas independentes, possam criar seu próprio regimento quanto a esta questão.

Ainda uma última palavra envolvendo o Evangelho e a política partidária. Um bom teólogo que é também um bom pastor sabe que a causa do Evangelho transcende toda e qualquer causa política e ideológica. Jesus é a medida perfeita de tudo o que é reto, belo, justo e bom. Assim, qual causa seria mais nobre do que esta? Anunciar o Evangelho que declara a graça de Deus, o perdão dos pecados, a reconciliação entre todas as coisas. Cabe, assim, aos pastores, serem fiéis ao seu chamado de pastorear um rebanho de ovelhas das mais diferentes matizes e, diante do governo e da classe política, ser uma voz profética. Caso optem pela carreira política, que ali sirvam fielmente de modo a serem uma benção para os cidadãos que representam!

Um comentário:

  1. Um texto didático e autoexplicativo que deixa claro a imperiosa necessidade do ministro preservar sua isenção ideológica ao optar pelo pastoreio de rebanhos naturalmente heterogenios e a incoerência da manutenção e/ou uso do titulo de pastor ao assumir adesão a especifica parcela ideológica na comunidade em que vive ou atua/atuava. O pastoreio implica em cuidar/orientar/liderar o rebanho integral e não PARTIDO ideologicamente/parte simpática ao partido assumido por quem era seu ex-pastor !!!

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