domingo, 21 de fevereiro de 2021

Jesus Não é o Caminho Para Deus

Por: Rodomar Ricardo Ramlow


Seja como uma afirmação de fé ou, seja para negar a sua verdade, você também já deve ter escutado a frase de que todos os caminhos levam a Deus

Sim, alguns creem que não importa em que ou em quem se creia. No fim, é tudo a mesma coisa. 
Outros discordam. Creem que se há um Deus Ele não é determinado pela nossa subjetividade, mas, é uma realidade que está para além de nós. Logo, há uma verdade que importa descobrir e crer. 

Para o cristão a segunda opção parece óbvia. Afinal de contas todo cristão que conhece as Escrituras, especialmente o Evangelho, já leu quando Jesus Cristo fez a seguinte afirmação: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14.6). 

Jesus é exclusivo. Único. Ele é o caminho e não uma possibilidade entre outros. Porém, resta ainda algo a ser melhor compreendido aqui. Jesus é o caminho, mas, não o caminho para Deus. 

O que isso significa? 

Para compreendermos isso melhor vamos recorrer ao nosso dia a dia e àquilo que sabemos da realidade. O que é um caminho? 

Um caminho, uma trilha, uma estrada, uma rodovia. Não importa, tudo isso tem, no fundo, o mesmo objetivo. É o meio que nos leva até outro lugar. Pensando bem, a verdade é que o caminho, em si, não nos leva a lugar nenhum. Nós é que precisamos nos colocar no caminho se desejarmos chegar lá. Se eu descer o pequeno elevado que dá da minha casa até a rua, encontrarei, de imediato, duas direções possíveis: posso descer a rua, à direita, ou, subir, na direção da rodovia. Se decidir pela esquerda, logo encontrarei três novas opções: a direita, a esquerda ou, atravessar e seguir rumo a outro bairro. Enfim, muitos caminhos, muitas possibilidades de destino. 

Quando nós pensamos no caminho como um meio, acabamos simplesmente, dando menos importância a ele. Imagine só: você está em Porto Alegre. Deseja chegar na cidade de Gramado. Por mais que haja um belo caminho, com atrações e belezas ao longo das rodovias, o mais importante no processo são você e o lugar onde você deseja chegar. Alguém poderia lembrar ainda que existem mais caminhos do que apenas um para se fazer esta viagem. O que seria verdade. 

Em que tudo isso pode nos ajudar na compreensão daquilo que Jesus está nos dizendo no Evangelho de João? Antes de afirmar ser ‘o’ caminho, Jesus diz algo que nem sempre lemos com a devida atenção. O contexto é que Jesus está oferecendo palavras de conforto, ânimo e esperança aos discípulos. E, então, entre outras coisas, ele diz que “vocês conhecem o caminho para onde vou” (João 14.4). Isso, para logo depois, dizer que é, Ele mesmo, o caminho. 

Como entender isso? 

Jesus estaria a caminho de Deus ou seria Ele o caminho para Deus? Atrevo-me a dizer que a resposta é: nem uma coisa e nem outra. Já dissemos que em nossa experiência os caminhos e rodovias não passam de referências secundárias, um meio para nos levar aonde realmente desejamos ir. Depois que chegamos ao nosso destino, o caminho fica para trás. Sequer pensamos mais nele. 

Será que é este o tipo de caminho que vemos em Jesus? Ele não passa de um meio para os nossos próprios objetivos? E, quando alcançamos aquilo que queremos nós, simplesmente, o esquecemos!? No máximo o procuraremos novamente quando precisarmos chegar a outros lugares!? Ou, quem sabe, para obtermos outras coisas!?

Lamentavelmente a nossa cultura utilitarista, em que nos acostumamos a usar tudo para satisfação de nossos próprios interesses, pode acabar desenvolvendo esse tipo de relação também com Deus. O primeiro detalhe é que Jesus não disse que ‘vocês conhecem o caminho por onde vou’. A preposição ‘por’ designa a maneira mais usual com que nós nos referimos aos caminhos: um meio para se chegar a algum lugar. Mas, Jesus diz ‘vocês conhecem o caminho para onde vou’. O sentido muda com a preposição ‘para’ que exprime direção ou lugar de destino. 

  • Resumindo: Jesus não fala de um caminho no sentido de um ‘meio’ mas de um destino, ou, um ‘lugar’ onde estar. 

Ao dizer que está no caminho e, ao mesmo tempo, que é o caminho, Jesus está reafirmando outro ponto que Ele deixará evidente mais adiante: “Quem me vê, vê o Pai” (João 14.9). Enfim, é como se Jesus estivesse dizendo: Aquele que está em mim está no caminho. Aquele que está no caminho está em mim. 

Isso quer dizer que Jesus não é um meio para se chegar a Deus ou a qualquer outro destino. Aqui, o caminho é o destino. Quem viver preocupado com um destino que relativiza o caminho, perderá ambos, o caminho e o destino. 

Você não crê que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?” (João 14.10), arremata Jesus. 

Você crê que Jesus está no caminho e que o caminho é Ele? 

Em Jesus, caminho e destino se confundem numa única paisagem. O discipulado consiste em aprendermos a desfrutar de ambos, do caminho que é destino e do destino que é caminho. 

Podemos parar de correr atrás do carro como cachorros ansiosos. Pois quando focamos só e demais um destino, em algum momento vai acontecer de o carro parar com o pneu ao alcance dos dentes, então pararemos também, sem sabermos o que fazer. 

Se não soubermos desfrutar de uma vida com Jesus hoje, o que achamos que vai ser depois, quando Ele retornar?

Um comentário:

  1. Jesus diz: “Eu sou o caminho”.

    1°) Na língua grega o artigo é obrigatório. Assim sendo, o assento não está no artigo, mas no substantivo.
    2°) O que conta é o substantivo: “caminho”.
    3°) Jesus mesmo afirma que ele é o caminho.
    4°) Mas para onde leva esse caminho? Este caminho leva para a eternidade. Ele é o caminho para Deus Pai. Ele é o caminho para o Reino Eterno de Deus.
    5°) Quem quer chegar lá, precisa pegar esse caminho.
    6°) É um chamado para o discipulado. Para andar com Jesus, viver com Jesus. Aprender de Jesus.
    7°) Ele é exclusivo? Veja o que está registrado no mesmo Evangelho. Jesus afirma: “Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida” (João 5.24). É evidente que Jesus fala em “crer naquele que me enviou”, ou seja, Deus Pai. Portanto, quem crê em Deus Pai “tem a vida eterna”.
    8°) Por exemplo: Israel, estaria condenado por não crer em Jesus, mas crer em Deus Pai? Paulo responde em Romanos 11: “Então eu pergunto: será que Deus rejeitou o seu próprio povo? É claro que não! Deus não rejeitou o seu povo, que ele havia escolhido desde o princípio. É assim que todo o povo de Israel será salvo. Os judeus rejeitaram o evangelho e por isso são inimigos de Deus, para o bem de vocês, os não-judeus. Mas, pela escolha de Deus, eles são amigos dele, por causa dos patriarcas.Porque Deus não muda de idéia a respeito de quem ele escolhe e abençoa” (Rm 11.1-2, 26, 28-29).
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