quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Discípulo de Quem?

Muito se fala de discipulado. O que é discipulado? 

A palavra discípulo ou discipulado, por si só, ainda não diz muita coisa. É preciso perguntar por aquele que o discípulo segue. 

Um discípulo é um aluno, um aprendiz, um seguidor. Assim, alguém pode ser discípulo de Buda, de Maomé, do Profeta Gentileza, do INRI Cristo, do Chico Xavier, enfim, até de pastores e outros líderes que gostam de inflar o próprio ego com seus bajuladores à volta. 

Quando Jesus Cristo orientou os seus discípulos para que eles fizessem discípulos certamente havia algo mais abrangente em jogo. Não se tratava que agora, depois da Ascenção de Jesus, cada discípulo, alçado à condição de apóstolo, deveria sair e formar, cada um, a sua própria seita de seguidores pessoais. 

Fazer discípulos, conforme o modelo de Jesus, sempre consiste em levar as pessoas a 
seguirem o único e verdadeiro mestre que é Jesus. 

Discipulado, assim, não é um mero programa, não se trata de um método de sete ou doze passos. Não se faz discipulado apenas transmitindo conteúdos ou recomendando leituras. O verdadeiro discipulado que consiste em levar pessoas a seguirem a Cristo e, portanto, encontrarem nEle a própria identidade, é um processo contínuo, não tem prazo e nem formatura. 

Nesse sentido, um versículo que precisamos resgatar quando o assunto é discipulado na igreja é João 1.36. Embora possamos falar dos “discípulos de João Batista”, esses o eram apenas na medida em que João se reconhecia um instrumento de Deus. João sabia que Aquele a quem realmente importa seguir é Jesus. Por isso, João não hesita em apontar o verdadeiro mestre e nem se ressente ao “perder” os seus seguidores para o verdadeiro Cristo. 

“João estava ali novamente com dois dos seus discípulos. Quando viu Jesus passando, disse: ‘Vejam! É o Cordeiro de Deus!’ Ouvindo-o dizer isso, os dois discípulos seguiram a Jesus” (João 1.35-37) 

Formar discípulos de Jesus não se resume a gerar seguidores pessoais. Não envolve métodos eprogramas que formam simpatizantes de nossas causas particulares. Não tem a ver com produção em série de “soldados” que marcham conforme nossas ordens. 

O discipulador é sempre alguém maduro o suficiente capaz de apontar para Jesus: "Vejam! É o Cordeiro de Deus!” 

Assim, o discipulador é apenas um instrumento circunstancial nas mãos de Deus que leva o discipulando à maturidade que consiste em ser, ele mesmo, um livre seguidor de Jesus. Alguém capaz de, agora, participar também da tarefa de auxiliar outros a se tornarem seguidores de Jesus. 

O discipulado cristão jamais gera dependência do discipulador, mas, somente de Cristo.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Então disse o Senhor Deus: "Agora o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal" (Gênesis 3.22)

Quando lemos o relato da Queda, em Gênesis 3, conseguimos, quando muito, nos identificar com o casal de seres humanos que foi enganado pela serpente. A própria palavra 'enganado' já volta a nos iludir e revela que não aprendemos muito depois disso. Continuamos a nos ver como vítimas incapazes de assumirem a responsabilidade pelos seus atos. Foi ele, foi ela, foi o diabo, qualquer um, menos eu! 

A Queda, porém, é tão mais danosa que nos faz ignorar que não só passamos a ser imitadores daquele primeiro casal, fugindo de nossas responsabilidades e dando desculpas esfarrapadas. Além disso, deixamos de buscar e nos orientar por Deus, aquele que nos criou à sua imagem e semelhança, para nos espelharmos na própria serpente. Assim como ela, semeamos a duvida, colocamos a Palavra de Deus sob suspeita, levamos outros ao erro, mentimos e, vejam só, até dizemos a verdade. Esta, porém, sempre misturada ao erro, à mentira, à dúvida, afinal, a verdade só importa como instrumento para manipular, enganar, desviar. São as meias verdades que, no fim, não passam de mentiras completas. 

Foi isso mesmo que Deus disse? Não. Não é bem assim! 

Nas palavras do Reformador Martim Lutero: 

“...a maior tentação foi ouvir uma outra palavra e afastar-se daquela que Deus havia proferido”. 

Depois disso, não queremos mais ouvir qualquer outra voz a não ser a nossa. Já acreditamos piamente na verdade da serpente: “...seus olhos se abrirão, e vocês serão como Deus” (Gênesis 3.5).

sábado, 11 de setembro de 2021

Igreja: preste atenção ao mundo à sua volta!

O chamado para pastorear uma igreja é um chamado para pastorear a comunidade. O que pode parecer óbvio nem sempre o é. Comunidade é algo pelo que se trabalha continuamente. Requer cuidados e atenção constante.

A responsabilidade de pastorear uma igreja vem com a missão de servir a comunidade. As igrejas não são ilhas ou bolhas criadas para isolar os crentes das enfermidades da sociedade. As paredes do templo  não são barreiras protetoras para os problemas da sociedade. Muito pelo contrário - a igreja é chamada para cumprir a missão de Deus no mundo. E, muitas vezes isso significa que as pessoas são enviadas para os desafios mais difíceis e os ambientes mais escuros da vizinhança. Como assim? 

Para o cristão, que vive dentro da narrativa bíblica, não é nenhuma novidade que a queda colocou a criação de Deus numa rota de perigos, problemas, maldades e injustiças. Vivemos num mundo cheio de problemas. A maioria concordará que a igreja deve ser parte da solução, pelo menos em teoria. Quando um pastor prega sobre as soluções para os problemas da comunidade e da cidade, muitos podem até mesmo acenar positivamente. Muitas igrejas têm boas intenções, mas não sabem por onde começar. Como partir para a ação e colocar uma visão cristã, bíblica, em prática? Como uma igreja se torna parte da solução para melhorar a realidade à sua volta?
 
Certamente teríamos uma lista de soluções bem longa se nos dispuséssemos a abrir para sugestões. Cada contexto apresenta uma realidade particular com os seus próprios desafios. Mas, será que haveria alguma solução negligenciada? Algo que a maioria das igrejas não está considerando?

Estamos acostumados com a palavra promoção.  Porém, queremos ampliar o sentido dessa palavra de modo que seja uma maneira prática para a igreja fazer a diferença ali onde se encontra. Por exemplo: a sua cidade possui muitas crianças aguardando por adoção? Adotar uma criança é uma forma de promover um ser humano. Quantas famílias bem estruturadas na igreja poderiam, muito bem, receber mais uma pessoa em sua casa! Pensemos, especialmente, naquelas crianças maiores, que não costumam ser as mais visadas por casais que buscam adotar. 

Quer outro exemplo? Qual é a taxa de desemprego em sua cidade? Muitas igrejas estão repletas de empresários e pessoas influentes. Como esses cristãos poderiam se mobilizar para criar cursos de qualificação? Talvez reduzir a margem de lucro e gerar mais empregos!? Sim, promover pessoas é uma das das maneiras mais negligenciadas de fazer com que sua igreja resolva os problemas da comunidade. Quando perguntamos pelas crianças, pelos moradores de rua, pelas mães que não tem onde deixar os filhos enquanto trabalham, pelas pessoas desempregadas, imediatamente nos conectaremos ao cerne dos problemas da comunidade. 

A igreja de Jesus Cristo é chamada a invadir os ambientes mais difíceis deste mundo e fazer a diferença. Não é uma tarefa simples. Ninguém disse que seria! Há, porém a promessa de que nem mesmo as portas do inferno prevalecerão diante de uma igreja ousada e que avança no poder do Espírito Santo. 

A igreja é chamada a cuidar dos mais vulneráveis. Promover pessoas é uma forma de ser pró-vida e pró-justiça. As Escrituras repetidamente nos lembram do estrangeiro, da viúva e do órfão.  Colocar-se a favor da vida e da justiça gera movimento, dá trabalho, trará incômodo. Ser igreja, porém, envolve criar uma cultura de sacrifício, de serviço. Ser pais adotivos, por exemplo, implica perder privacidade, dinheiro, segurança e muito sono. O sacrifício é exigido desde o momento em que você começa, se inscrevendo no processo de adoção.

Ser igreja envolve formar comunidade. As crianças e os mais vulneráveis passam a ser responsabilidade de todos. Em Cristo, o ser igreja implica uma nova grande família. Quantas pessoas mais podemos acolher?

Ainda sobre o aspecto específico da adoção, talvez nem todas as casas estejam preparadas. No entanto, existem outras maneiras de acolher. Existem crianças e jovens que poderiam se sair melhor em seus estudos, mas, não tem as condições ideias. Como ajudar? Fato é que a pessoa que está inserida numa igreja não estará sozinha diante desses e outros desafios. 

Quando uma igreja passa a prestar mais atenção à realidade à sua volta ela também sente-se chamada a arriscar mais. Só quando a igreja descobrir meios de promover pessoas ela será uma benção na sua realidade, gerando vida e transformação.