domingo, 29 de agosto de 2021

Discipulado é Relacionamento com Jesus

Quando se trata de seguir a Jesus, será que estou convencido de que eu já dei o passo? Será que meu voluntarismo me permitem o direito de cumprir uma série de preceitos em lugar de um relacionamento direto com Jesus? Será que eu posso me considerar justificado e bom porque decidi dedicar algumas horas da semana à Jesus? Talvez o meu envolvimento com uma série de compromissos religiosos me forneçam a ilusão de que já sou um bom discípulo!? Talvez eu acredite que um compromisso total venha depois de eu cumprir uma série de exigências e obrigações com a igreja!? Quem sabe, eu esteja convencido de que estar na multidão já seja o suficiente. Posso continuar a ditar o ritmo. Faço a minha agenda e peço que Deus a abençoe. Eu sigo, mas, primeiro, eu tenho umas coisinhas que preciso decidir! 

Lembrando outro episódio, quando Jesus lançou seu convite, deparamo-nos com uma resposta radical: “Passando por ali, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: ‘Siga-me’. Levi levantou-se e o seguiu” (Marcos 2. 14). 

Quanta coisa Levi deixou naquele momento para seguir quem lhe convocava!? Poderia ter dado inúmeras e plausíveis justificativas. Como deixar seu trabalho ali, em pleno horário de expediente? Quem o substituiria? Havia ainda repasses a fazer e comissões para receber. O texto, no entanto, diz simplesmente que Levi levantou-se e o seguiu. 

Nas palavras de Dietrich Bonhoeffer, 
"o ser humano que foi chamado larga tudo quanto tem, não para fazer algo especial, mas simplesmente por causa daquele chamado, porque, de outro modo, não pode seguir os passos de Jesus”. 

O único conteúdo no discipulado de Jesus é Ele mesmo. 

O que é o discipulado? 

Discipulado cristão é comprometimento com uma pessoa: a pessoa de Jesus Cristo. Começa, portanto, com um relacionamento com Ele.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Discipulado Não é Para Relutantes

Estamos tratando sobre três possíveis perfis de candidatos ao discipulado com Jesus Cristo. Além do voluntário e do legalista, sobre os quais escrevemos nos textos anteriores, há ainda um terceiro personagem no relato do Evangelho de Lucas 9. 57-62. Este, ao que parece, ouvindo a conversa anterior de Jesus com os outros dois, entra com muita boa vontade e se dirige a Jesus, dizendo: “Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir da minha família” (Lucas 9.61). 

Estamos diante de uma espécie de combinação entre os dois personagens anteriores. Este se prontifica. Ele quer, mas, já embute uma justificativa na sua fala. Ele quer... mais ou menos...! Há um 'porém'. Poderíamos chamar este de o seguidor relutante. Ele, assim como o legalista, tem uma boa desculpa para procrastinar. Mas, trata-se apenas de um ato de cortesia. Não é que ele deseja ficar até o final da vida com os pais. Quer apenas se despedir. Que mal pode haver nisso!? Ele quer apenas deixar as coisas em ordem. Encaminhar os negócios primeiro. No máximo terminar aquele empreendimento que, afinal de contas, não poderia ser deixado pela metade. Talvez tivesse alguma propriedade que precisaria vender! 

Em todos os três casos, chama a atenção que a resposta de Jesus é bastante dura! O que isso revela? Uma coisa muito simples: nenhum deles estava sendo realmente sincero diante de Jesus. Se houvesse sinceridade a reação de Jesus seria outra. Não temos como saber ao certo! O hesitante ou relutante se caracteriza por colocar suas próprias condições. 'Eu te sigo, desde que...' O relutante acha que pode impor condições, ele procura apresentar a sua própria programação de como as coisas deveriam ser. Ele impõe critérios que possam justificar as coisas à luz da razão e da ética. Ele deseja estabelecer o seu próprio tempo e a agenda. 

Muitas vezes eu também sou assim. Seria mais fácil ser um discípulo de Jesus se eu pudesse manter o controle de certas coisas. Cabe a reflexão: Você tem conseguido deixar Jesus tomar conta de tudo? Entregou a ele sua agenda? Sua carteira? Seu tempo (relógio)? Suas relações (celular, WhatsApp, família)? Seus negócios (trabalho, empreendimentos)? O que te prende? O que ainda te deixa dividido, relutante, indeciso? Será que eu sei o que realmente quero? Por que hesito?

Qual é a resposta de Jesus ao relutante? “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lucas 9.62). Pegou? Então agarra firme e vamos em frente! Nas antigas tecnologias de arado, se o lavrador se distraísse ou ficasse olhando para trás, seria impossível fazer um trabalho decente e manter uma linha reta. O discipulado implica um compromisso radical, decidido, sem vacilar... Há apenas um único Senhor e o foco agora é ele e somente ele. Discipulado é relacionamento com Jesus! O que nós temos colocado entre o chamado de Cristo e a nossa obediência incondicional? O que tem me atrapalhado?

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Discipulado Não é Para Legalistas

No texto anterior falamos que o discipulado não é para voluntários. Baseado no texto de Lucas 9. 57-62 diríamos que o discipulado também não combina com o legalismo. O legalismo ou a religiosidade, quando colocados em primeiro plano, sempre será obstáculo e desculpa para um verdadeiro compromisso com Jesus. 

Depois de Jesus tratar com o voluntário, surge um segundo personagem. A este Jesus estende o convite: “siga-me” (v. 59). É uma situação diferente daquela diante do voluntário. Aqui Jesus vê alguém e lança o convite. A iniciativa é de Jesus. 

Aquele homem era mais um dos seguidores casuais de Jesus. Estava ali, na multidão. De repente, Jesus lhe permite um encontro pessoal e direto. Esta pessoa, num primeiro momento, parece não ter dúvidas de que se trata de um convite e tanto. Não poderia negá-lo! Ele sabe que não basta responder algo do tipo, “mas, Senhor, eu já o sigo!” Não. Ele sabe que o negócio agora é diferente: "Ele olhou pra mim! Ele me viu! Ele se dirigiu diretamente a mim! Ele me identificou e me chama dentre a multidão!" “Caramba! Agora a coisa ficou séria!” 

Qual foi, no entanto, sua resposta ao ‘siga-me’ de Jesus? “Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai” (Lucas 9.59). 

Para Dietrich Bonhoeffer este homem se encaixaria no perfil do legalista. Se o primeiro candidato a discípulo é o voluntarioso, este, agora, é o legalista. Por que? O judaísmo sempre enfatizou fortemente a importância da obrigação com os pais. Aquele homem, portanto, parece apresentar uma justificativa legítima para adiar sua resposta ao convite de Jesus. Havia uma obrigação a ser cumprida! 

É evidente que não estava acontecendo um velório naquele exato momento. Se assim fosse, aquele homem não estaria ali, às voltas com Jesus, mas, envolvido com os preparativos de um funeral. Mas, que resposta foi aquela, então? O que ele realmente estava dizendo era que precisava esperar a velhice e a morte dos pais. Teria que viver para cuidar deles. E, só depois, regressaria para atender satisfatoriamente o desafio de Jesus. ‘Senhor, eu não posso ser seu discípulo enquanto meu pai ainda estiver vivo’. Aquela resposta passava um ar honrado, piedoso, até mesmo justo. Como poderia ser tão irresponsável a ponto de abandonar a família para seguir Jesus!? Certamente nem é isso que Deus requer! Mas, por quanto tempo ele adiaria uma resposta ao convite de Jesus!? O que tudo o mais haveria de cumprir antes de poder tornar-se um discípulo de Cristo? Quantas justificativas podem ser dadas para adiar um compromisso total!? 

Você já parou para imaginar o quanto pode estar entre a multidão que se ocupa com as doutrinas, os estatutos e burocracias eclesiásticas de modo que pode estar utilizando muitas destas coisas para adiar um compromisso radical com Jesus!? O quanto estamos envolvidos com as coisas de Deus sem nos deixarmos envolver pelo próprio Deus!? Nós nos damos por satisfeitos por já carregarmos um rótulo de Cristão, por termos sido batizados, sermos frequentadores dos programas da igreja... Acreditamos estar envolvidos em mudar o mundo sem, no entanto, deixar que Deus mude a nós mesmos.

Transformamos nossa vida cristã num conjunto de preceitos e regras, num seguir de certas tradições... Estamos convencidos de que existem certas coisas que precisamos cumprir. Afinal, é preciso fazer certo as coisas certas! Como reagiremos se, de repente, Jesus nos identificar em meio a todo serviço religioso com o convite: ‘Ei, você, siga-me!’ Talvez você responda, orgulhoso: 'Não, pois eu já faço parte de um programa de discipulado!'

São dois os riscos que envolvem o legalista: o primeiro é confundir seu legalismo, sua capacidade de seguir direitinho as leis, com o discipulado que se caracteriza com o seguir a Jesus, deixando transforma-se à semelhança da revelação humana em Cristo. Achar que por viver conforme um conjunto de regras e doutrinas já é um bom cristão e isso basta. O segundo risco é substituir aquele que realmente é capaz de salvar por algo que depende de si mesmo: seu apego e capacidade de seguir leis que lhe passam um falso sentimento de poder, conhecimento e autonomia. 

Bonhoeffer diria que o legalista coloca o cumprimento às leis acima da obediência ao chamado de Jesus. Ignoramos, assim, que sobre aquele a quem Jesus chamou, a lei já não possui mais qualquer direito. 

Qual foi a resposta de Jesus ao legalista? “Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus” (Lucas 9.60). Mais uma vez, a exemplo do que aconteceu com o voluntário anteriormente, Jesus pega pesado. Palavras duras! 

Eu sou do estado do Espírito Santo. Quando meu pai adoeceu e, posteriormente veio a falecer, eu residia em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Há quase 2.500 Km eu não pude acompanhar esse processo. Sequer fui ao sepultamento. Eu sei o quanto é complicado! Eu gostaria de encontrar palavras para amenizar um pouco essa fala de Jesus! Mas, só piora! Quando eu ouço Jesus dizendo que “se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo” (Lucas 14.26), não me restam dúvidas de que sim, há um preço! 

O discipulado tem o seu custo para quem se entrega totalmente. Mas, quem encontra a vida, não se amedronta nem se ocupa mais com a morte. O discípulo é um mensageiro do reino de Deus. O discípulo sabe que encontrou a vida. Por mais justificáveis que pareçam nossas desculpas, nada que se possa imaginar perdido por seguir a Cristo é de fato uma perda!

terça-feira, 24 de agosto de 2021

Discipulado Não é Para Voluntários

Quem pode ser um discípulo de Jesus?

Já nos textos anteriores iniciamos uma conversa a respeito de um tema recorrente entre os cristãos: o discipulado. Embora possamos encontrar diversas maneiras de interpretar e definir o discipulado, fato é que não há como entender melhor seu significado do que quando decidimos olhar para Jesus. Refletindo a respeito da passagem bíblica de Lucas 9.57-62, o teólogo Dietrich Bonhoeffer nos auxilia na identificação de três candidatos ao discipulado que encontravam-se entre a multidão que costumava juntar-se em torno de Jesus. Vamos analisar com mais detalhes estes três perfis que o texto nos apresenta! 

O primeiro deles poderíamos caracterizar como o voluntário. Aquele primeiro homem, conforme nos relata o texto, chega a Jesus e diz: “Eu te seguirei por onde quer que fores” (Lucas 9.57). O destaque, aqui, está exatamente no fato de que não houve um chamado aparente de Jesus. O homem surge como alguém que se voluntaria a seguir Jesus. Temos, portanto, um primeiro perfil de cristãos que confundem o discipulado com algo cujo a iniciativa pode partir de si mesmo. É o voluntário. Aquele que se prontifica. 
Seria injusto se eu agora quisesse julgar as motivações daquele homem. Pode ser que sua motivação fosse até sincera. De tudo que viu e ouviu, seguir esse Jesus poderia ser uma aventura interessante. Sua causa é nobre e fazer parte disso certamente é algo bom. Quem não gostaria de ser identificado como alguém que se colocou 'do lado do bem'!? 

Você que é líder ou pastor numa igreja local, imagine sua reação se algum estranho chegasse e manifestasse o desejo de integrar a sua comunidade. Certamente você ficaria feliz e faria de tudo para receber bem essa pessoa. Faria de tudo para incluir ela e fazer com que se sentisse bem. Quem imaginaria uma repreensão!? Alguém pensaria em dizer algo que pudesse afugentar essa pessoa? Você pensaria em criar alguma dificuldade para este homem que se prontifica tão diretamente? 

A resposta de Jesus parece indicar que ele não estava assim tão interessado em voluntários dispostos a estarem com ele em alguns bons momentos: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Lucas 9.58). Jesus pega pesado com o voluntarismo: Você tem certeza daquilo que está dizendo? Jesus dá a real! Há momentos que seguir a Cristo implicará em viver de forma mais desconfortável à vida de muitos animais. Pouco antes, Jesus fora impedido de atravessar a região de Samaria. Ele já fora expulso da Sinagoga. Além de críticas, rótulos e ameaças verbais, Jesus logo experimentaria a mais dolorosa violência em seu próprio corpo! Ser um discípulo não é coisa para quem tem aspirações de grandeza, de poder e status conforme os valores mundanos.

Em tempos de bonança pode ser muito fácil seguir Jesus, figurar entre aqueles que se declaram cristãos, desfrutar de certo status, passar um ar de piedade e compromisso. Jesus, no entanto, busca discípulos legítimos, dispostos a uma caminhada de risco. Mais adiante, no capítulo 14 de Lucas (v. 25ss.) Jesus mais uma vez chamará a atenção para que se calcule bem o preço do discipulado. Jesus espera por um compromisso radical! Discipulado não é voluntarismo. Discipulado não começa com um chamado a si mesmo. Discipulado é sempre uma resposta ao chamado de Jesus Cristo. 

O voluntário até pode ser muito sincero em seu impulso que o leva a se dispor. Mas, Jesus quer uma resposta consciente. Não podemos nos deixar levar pelo mero entusiasmo, pela moda, porque se dizer gospel ou cristão agora é pop, porque meus amigos fizeram, porque tá todo mundo seguindo, porque abriu uma "church" descolada na cidade ou coisas assim! Não basta ficar impressionado por Jesus! Segui-lo implica em renúncia e abnegação. Se segui-lo, ele vai podar algumas coisas na sua vida! Ah, você quer? Tem certeza? “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”. Esta foi a resposta de Jesus ao voluntário. Andar com Jesus trará consequências, as mais diversas!

sábado, 21 de agosto de 2021

Qual é a Sua Desculpa?

Os textos anteriores nos conduziram ao tema do discipulado. Sem dúvida um assunto recorrente na igreja. Existe um texto bíblico que nos apresenta algumas questões importantes na reflexão a respeito do tema do discipulado. Estou falando de Lucas 9. 57-62. 

Quando andavam pelo caminho, um homem lhe disse: "Eu te seguirei por onde quer que fores". Jesus respondeu: "As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça". A outro disse: "Siga-me". Mas o homem respondeu: "Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai". Jesus lhe disse: "Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus". Ainda outro disse: "Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir da minha família". Jesus respondeu: "Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus". 

Jesus está, como de costume, envolvido pela multidão. Acontecem, então, algumas conversas de alguns destes personagens com Jesus. Esta conversa ocorre ao longo do caminho. Jesus havia manifestado que seu destino nessa caminhada era Jerusalém (Lucas 9.51). Um imbróglio envolvendo os samaritanos fez com que se dirigissem a outro povoado. Ao longo desse caminho é que Jesus é interpelado por três candidatos ao discipulado. 

O que chama a atenção nesta passagem é que todos os três homens estavam entre a multidão em torno de Jesus. E, em algum momento, todos se viram face a face com Jesus Cristo. Até aquele momento, talvez, tivessem ouvido falar de Jesus..., quem sabe o tivessem visto de longe...! Pode ser que até já tivessem conversado com alguém outro mais chegado de Jesus! Eles, certamente, já nutriam admiração por aquele jovem galileu! No entanto, chegou o momento de um confronto para valer! Aquele momento de deixar a multidão e tornar-se um discípulo de verdade. 

Para o teólogo e mártir luterano Dietrich Bonhoeffer, “cristianismo sem discipulado é sempre cristianismo sem Jesus Cristo”. Portanto, o discipulado implica num encontro e um confronto com a pessoa de Jesus. As consequências desse encontro são inevitáveis! Estar diante de Jesus implica mudanças radicais. Será que estamos dispostos?

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Graça Barata x Graça Preciosa

Dietrich Bonhoeffer
No dia 4 de fevereiro de 1906, em Breslau na Alemanha, nasceu uma criança que seria batizada com o nome de Dietrich Bonhoeffer. Teve uma irmã gêmea, Sabine e, ainda, outros numa casa com oito filhos. Aquele menino cresceu, formando-se em teologia em Berlim, em 1927. Logo descobriria que as coisas se tornariam difíceis em seu país. 

Dietrich tornou-se um pastor luterano e professor universitário. Doutorou-se em teologia pela Universidade de Berlim. Quando a ameça nazista já começava a ser identificada por muitos como uma ameça, Bonhoeffer surgiu como oponente ao sistema de Hitler. Foi membro fundador da Igreja Confessante, contrária à política nazista. 

Junto com outros teólogos, Bonhoeffer foi um dos mentores e signatários da Declaração de Barmen, uma confissão contendo seis teses contra a ideologia nazista. Bonhoeffer foi preso em Abril de 1943 por ajudar judeus a fugirem para a Suíça. Em 9 de Abril de 1945, três semanas antes que as tropas aliadas libertassem o campo, foi enforcado, junto com um irmão e dois cunhados. 

As diversas publicações deixadas por Bonhoeffer podem ser hoje encontradas e lidas também em português. Num destes livros, cujo título traduzido é "Discipulado", este pastor tematiza, na introdução, a importância de discernir entre a graça preciosa e a graça barata. Assim, a graça barata seria a
compreensão da justificação do pecado. Já a graça preciosa seria a compreensão da justificação do pecador. Em suas palavras, “a graça barata é a graça que nós dispensamos a nós próprios”. Sem dúvida um entendimento que a igreja de nossos dias ganharia em resgatar e compreender. 

Como motivação para aprofundamento e estudo da obra de Dietrich Bonhoeffer, deixo mais uma citação de sua pena: 

A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina comunitária, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado”

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

E Se Seguissem Você!?

Por volta de 2014, quando meus filhos tinham 3 e 6 anos de idade, estávamos residindo em Curitiba. Eu saía com as crianças no portão e, chegando à rua, algo chamou a atenção delas. Duas pessoas estavam passando. Estas pessoas trajavam roupas idênticas e, até mesmo a mochila que carregavam era semelhante. Ambas também ostentavam um crachá no peito. Tratava-se de uma dupla de missionários da Igreja dos Santos dos últimos Dias (Mórmons), comum na maioria das cidades brasileiras. 

Por alguma razão, aqueles dois jovens despertaram a curiosidade, especialmente da Sophia. Ela perguntou o que eram aquelas pessoas. Eu, então, tentei explicar para ela. Disse que eram pessoas que saíam por aí falando do Deus no qual eles acreditam. Ingenuamente imaginei que uma criança, naquela idade, talvez ficaria satisfeita com esse tipo de resposta. Afinal, desde bebês, elas convivem com pais que confessam a Deus, possuem livros e Bíblias em casa, contam histórias sobre Deus, frequentam e as levam a igreja e etc.. 

Mas, a Sophia não se deu por satisfeita. Perguntou se o Deus daquelas pessoas era o mesmo Deus que a gente acredita. Eu comecei a perceber que estava numa enrascada. Procurei responder com algo do tipo: bem, eles não acreditam exatamente como a gente, há algumas diferenças... E, antes mesmo que eu pudesse continuar ela interrompe: o deus deles é uma estátua? Lá estava eu, me contorcendo para tentar explicar: não exatamente, Sophia... Foi então que o Henrique, até aquele momento calado, mas não desligado da conversa, percebendo meu malabarismo e toda a dificuldades para oferecer uma resposta satisfatória, interrompeu abruptamente com uma sugestão brilhante: Pai, por que a gente não segue eles, daí a gente vai ver o deus deles!? 

Eu já contei esse episódio algumas vezes e quase sempre fica como mais uma dessas curiosidades engraçadas da relação pais e filhos, especialmente filhos pequenos que vivem a aventura de descobrir o mundo. Como cristão, no entanto, eu jamais pude evitar de lembrar repetidas vezes da palavra de Jesus a respeito das crianças. Uma interpretação possível é que Jesus lembra aos adultos de que, além de ensinarmos, devemos prestar atenção a elas, as crianças, pois também tem muito a nos ensinar, aos adultos. 
Hoje, já passados sete anos daquele episódio, eu costumo me lembrar especialmente da sugestão do Henrique, então uma criança com pouco mais de 3 anos de idade: “Pai, por que a gente não segue eles, daí a gente vai ver o deus deles!?” Eu não explorei com o Henrique, na época, o que exatamente ele tinha em mente ao propor aquilo. Talvez tenhamos dado algumas risadas e seguimos nosso caminho. Os dois estavam mais interessados no parquinho para onde nos dirigíamos. 

A imaginação de uma criança é algo realmente incrível! Mas, hoje, quando me pego refletindo sobre algumas coisas das Escrituras, especialmente sobre o discipulado, uma pergunta me assalta: Que tipo de Deus as pessoas descobririam se resolvessem me seguir?

sábado, 14 de agosto de 2021

Já tenho a visão, só falta a estratégia. Por onde começar?

Muitos pastores e líderes de igrejas estão empenhados em difundir e estabelecer uma visão. Mas, será que eles tem uma estratégia para isso? 

Se eu decidir alcançar a lâmpada que preciso trocar em meu escritório, busco a escada que tenho guardada na garagem. Só assim poderei alcançar o forro, retirar a lâmpada queimada e instalar uma nova.

Muitas vezes tenho a sensação de que nos comportamos como quem deseja uma sala mais iluminada, porém, esperamos que a lâmpada fique mais potente por si só, ou, que a qualquer momento, alguém virá e instalará uma luz mais forte. 

Por mais simplista que esse exemplo possa parecer, ele nos ajuda a entender que para alcançarmos os nossos objetivos será necessário planejamento e uma estratégia. Se a minha escada e seus degraus representam o caminho para alcançar a lâmpada, uma estratégia é o caminho para a visão. 

Talvez você já tenha clareza quanto à visão para a igreja, mas, esteja encontrando dificuldades para traçar um caminho até lá. Para que você possa criar uma estratégia que leve a sua equipe a alcançar os objetivos traçados, será necessária começar se perguntando 'como'? 

Como eu conseguirei uma luz mais forte para o meu escritório? 
Como alcançar a visão estabelecida para a igreja? 

Traçar uma estratégia nada mais é do que traçar um plano, um passo a passo que te levará na direção desejada. 

Estabelecer metas, objetivos e definir uma visão é a parte fácil do processo de planejamento. O grande desafio consiste em pensar estrategicamente. 

Você já tem uma ideia para onde ir? Ótimo. Você está certo de que está seguindo a direção correta para chegar lá? Você possui uma estratégia para alcançar os objetivos? Sim, é lá que eu quero chegar! Mas, como? 

Se você já se envolveu em algum processo de planejamento já deve ter percebido a importância de algumas peguntas chave na implementação estratégica: 

Porquê? 
O quê? 
Onde? 
Quando? 
Quem? 

Você já sabe por qual motivo deseja que algo seja feito. Pensar estrategicamente consiste em saber também como será feito, quem fará, quando e em quanto tempo. 

O macro num planejamento consiste em desenvolver o nível estratégico que inclui missão, visão e valores. A implementação que garantirá que o planejamento saia do papel, no entanto, dependerá de uma estratégia clara, com um plano de ação bem delineado. Consiste em definir metas e objetivos. Atribuir responsabilidades e definir prazos. Estabelecer cronogramas e processos de monitoramento. 

Há também outro fator determinante no planejamento e na busca por se atingir os objetivos traçados. A execução de um planejamento envolve outras pessoas. Equipe. Logo, a comunicação é fundamental. Comunicar bem faz arte da estratégia.

Quando várias pessoas estão envolvidas num mesmo projeto é indispensável que haja clareza na comunicação. Não basta comunicar uma vez a visão. É preciso repetir, relembrar, orientar ao longo da jornada. 

A importância da comunicação é também importante porque é comum que as pessoas se empolguem com uma ideia no começo. Mas, as coisas tendem a esmorecer quando não se sabe mais como as coisas estão seguindo. A equipe precisa ser lembrada de que são uma equipe e que estão envolvidas em algo maior. 

Se estratégia sem visão pode acabar em mero ativismo, a visão sem uma estratégia gera apenas frustração. É melhor ter uma visão modesta, porém, com uma super estratégia do que ter uma visão fantástica, mas, sem uma estratégia.