Mostrando postagens com marcador Bonhoeffer. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Bonhoeffer. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

DIETRICH BONHOEFFER E O CASAMENTO: um 'sim' para o mundo de Deus

Embora ainda não fosse algo público, quando Dietrich Bonhoeffer foi preso ele estava noivo de uma garota de dezoito anos chamada Maria von Wedemeyer. Apesar dos sonhos de casamento entre os dois, a união nunca chegou a se concretizar. O namoro se resumiu a cartas trocadas entre eles e a dezessete visitas que Maria pode fazer à prisão. Numa dessas cartas Bonhoeffer expressou sua ideia a respeito do casamento como um 'sim' para o mundo de Deus. 
Essa ideia sobre o matrimônio não se resumia ao seu futuro casamento em particular, mas, para o casamento como ato de fé e esperança. Bonhoeffer expressou algo nesse sentido para dois amigos quando estes compartilharam seus próprios planos de casamento. Numa carta à Maria, Bonhoeffer diz:

"Nosso casamento deve ser um ‘sim’ ao mundo de Deus. Tem de fortalecer nossa resolução de realizar e concluir algo na terra. Temo que aquele que se aventura a manter-se no mundo sob uma única perna permanecerá numa única perna também no paraíso". 

Na mesma época em que estava preso, uma sobrinha de Bonhoeffer estava de casamento marcado com Eberhard Bethge, seu melhor amigo e biógrafo. Bonhoeffer chegou a trabalhar num sermão que pretendia usar nesse casamento:

"Ao acrescentar o 'sim' dele ao 'sim' de vocês, ao confirmar a vontade dele com a sua vontade, e ao permitir e aprovar o seu triunfo e regozijo e orgulho, Deus os transforma ao mesmo tempo em instrumentos da vontade e do propósito dele tanto para vocês mesmos quanto para os outros. Em sua condescendência insondável, Deus acrescenta o 'sim' dele; mas, ao fazê-lo, ele cria, do amor de vocês, algo novo — o bem sagrado do matrimônio". 

Dietrich Bonhoeffer revelou que mantinha uma ideia bastante elevada a respeito do casamento. Para ele o matrimônio era “mais do que o amor mútuo”, trata-se de algo que “possui força e dignidades superiores, pois é ordenança sagrada de Deus, por meio da qual ele quer perpetuar a raça humana até o fim dos tempos”. 

Uma frase memorável resultou dessa reflexão tão profunda de Bonhoeffer a respeito do casamento:

"Não é o amor de vocês que sustenta o casamento, mas de agora em diante é o casamento que sustenta o amor de vocês”. 

O amor de Bonhoeffer por Maria e sua fé em Deus o sustentaram naqueles meses que antecederam sua fatídica condenação. As cartas entre Dietrich e Maria revelam uma faceta pouco conhecida da história do mártir alemão.

domingo, 29 de agosto de 2021

Discipulado é Relacionamento com Jesus

Quando se trata de seguir a Jesus, será que estou convencido de que eu já dei o passo? Será que meu voluntarismo me permitem o direito de cumprir uma série de preceitos em lugar de um relacionamento direto com Jesus? Será que eu posso me considerar justificado e bom porque decidi dedicar algumas horas da semana à Jesus? Talvez o meu envolvimento com uma série de compromissos religiosos me forneçam a ilusão de que já sou um bom discípulo!? Talvez eu acredite que um compromisso total venha depois de eu cumprir uma série de exigências e obrigações com a igreja!? Quem sabe, eu esteja convencido de que estar na multidão já seja o suficiente. Posso continuar a ditar o ritmo. Faço a minha agenda e peço que Deus a abençoe. Eu sigo, mas, primeiro, eu tenho umas coisinhas que preciso decidir! 

Lembrando outro episódio, quando Jesus lançou seu convite, deparamo-nos com uma resposta radical: “Passando por ali, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na coletoria, e disse-lhe: ‘Siga-me’. Levi levantou-se e o seguiu” (Marcos 2. 14). 

Quanta coisa Levi deixou naquele momento para seguir quem lhe convocava!? Poderia ter dado inúmeras e plausíveis justificativas. Como deixar seu trabalho ali, em pleno horário de expediente? Quem o substituiria? Havia ainda repasses a fazer e comissões para receber. O texto, no entanto, diz simplesmente que Levi levantou-se e o seguiu. 

Nas palavras de Dietrich Bonhoeffer, 
"o ser humano que foi chamado larga tudo quanto tem, não para fazer algo especial, mas simplesmente por causa daquele chamado, porque, de outro modo, não pode seguir os passos de Jesus”. 

O único conteúdo no discipulado de Jesus é Ele mesmo. 

O que é o discipulado? 

Discipulado cristão é comprometimento com uma pessoa: a pessoa de Jesus Cristo. Começa, portanto, com um relacionamento com Ele.

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Discipulado Não é Para Relutantes

Estamos tratando sobre três possíveis perfis de candidatos ao discipulado com Jesus Cristo. Além do voluntário e do legalista, sobre os quais escrevemos nos textos anteriores, há ainda um terceiro personagem no relato do Evangelho de Lucas 9. 57-62. Este, ao que parece, ouvindo a conversa anterior de Jesus com os outros dois, entra com muita boa vontade e se dirige a Jesus, dizendo: “Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir da minha família” (Lucas 9.61). 

Estamos diante de uma espécie de combinação entre os dois personagens anteriores. Este se prontifica. Ele quer, mas, já embute uma justificativa na sua fala. Ele quer... mais ou menos...! Há um 'porém'. Poderíamos chamar este de o seguidor relutante. Ele, assim como o legalista, tem uma boa desculpa para procrastinar. Mas, trata-se apenas de um ato de cortesia. Não é que ele deseja ficar até o final da vida com os pais. Quer apenas se despedir. Que mal pode haver nisso!? Ele quer apenas deixar as coisas em ordem. Encaminhar os negócios primeiro. No máximo terminar aquele empreendimento que, afinal de contas, não poderia ser deixado pela metade. Talvez tivesse alguma propriedade que precisaria vender! 

Em todos os três casos, chama a atenção que a resposta de Jesus é bastante dura! O que isso revela? Uma coisa muito simples: nenhum deles estava sendo realmente sincero diante de Jesus. Se houvesse sinceridade a reação de Jesus seria outra. Não temos como saber ao certo! O hesitante ou relutante se caracteriza por colocar suas próprias condições. 'Eu te sigo, desde que...' O relutante acha que pode impor condições, ele procura apresentar a sua própria programação de como as coisas deveriam ser. Ele impõe critérios que possam justificar as coisas à luz da razão e da ética. Ele deseja estabelecer o seu próprio tempo e a agenda. 

Muitas vezes eu também sou assim. Seria mais fácil ser um discípulo de Jesus se eu pudesse manter o controle de certas coisas. Cabe a reflexão: Você tem conseguido deixar Jesus tomar conta de tudo? Entregou a ele sua agenda? Sua carteira? Seu tempo (relógio)? Suas relações (celular, WhatsApp, família)? Seus negócios (trabalho, empreendimentos)? O que te prende? O que ainda te deixa dividido, relutante, indeciso? Será que eu sei o que realmente quero? Por que hesito?

Qual é a resposta de Jesus ao relutante? “Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus” (Lucas 9.62). Pegou? Então agarra firme e vamos em frente! Nas antigas tecnologias de arado, se o lavrador se distraísse ou ficasse olhando para trás, seria impossível fazer um trabalho decente e manter uma linha reta. O discipulado implica um compromisso radical, decidido, sem vacilar... Há apenas um único Senhor e o foco agora é ele e somente ele. Discipulado é relacionamento com Jesus! O que nós temos colocado entre o chamado de Cristo e a nossa obediência incondicional? O que tem me atrapalhado?

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Graça Barata x Graça Preciosa

Dietrich Bonhoeffer
No dia 4 de fevereiro de 1906, em Breslau na Alemanha, nasceu uma criança que seria batizada com o nome de Dietrich Bonhoeffer. Teve uma irmã gêmea, Sabine e, ainda, outros numa casa com oito filhos. Aquele menino cresceu, formando-se em teologia em Berlim, em 1927. Logo descobriria que as coisas se tornariam difíceis em seu país. 

Dietrich tornou-se um pastor luterano e professor universitário. Doutorou-se em teologia pela Universidade de Berlim. Quando a ameça nazista já começava a ser identificada por muitos como uma ameça, Bonhoeffer surgiu como oponente ao sistema de Hitler. Foi membro fundador da Igreja Confessante, contrária à política nazista. 

Junto com outros teólogos, Bonhoeffer foi um dos mentores e signatários da Declaração de Barmen, uma confissão contendo seis teses contra a ideologia nazista. Bonhoeffer foi preso em Abril de 1943 por ajudar judeus a fugirem para a Suíça. Em 9 de Abril de 1945, três semanas antes que as tropas aliadas libertassem o campo, foi enforcado, junto com um irmão e dois cunhados. 

As diversas publicações deixadas por Bonhoeffer podem ser hoje encontradas e lidas também em português. Num destes livros, cujo título traduzido é "Discipulado", este pastor tematiza, na introdução, a importância de discernir entre a graça preciosa e a graça barata. Assim, a graça barata seria a
compreensão da justificação do pecado. Já a graça preciosa seria a compreensão da justificação do pecador. Em suas palavras, “a graça barata é a graça que nós dispensamos a nós próprios”. Sem dúvida um entendimento que a igreja de nossos dias ganharia em resgatar e compreender. 

Como motivação para aprofundamento e estudo da obra de Dietrich Bonhoeffer, deixo mais uma citação de sua pena: 

A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina comunitária, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado”