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“Acima de tudo, guarde o seu coração, pois dele depende toda a sua vida” (Provérbios 4.23).
Mas voltemos ao jovem sonhador José. Seus irmãos ficaram extremamente irritados com ele. Eles estavam furiosos. É difícil imaginar o quanto os irmãos de José estavam enfurecidos com suas falas sobre sonhos de grandeza, vindo de um rapazote que ainda não estava preparado para o trabalho árduo, para enfrentar as tarefas de um homem adulto. Eles ficaram tão irados e indignados que, acreditem, começaram a expressar entre si, enquanto trabalhavam no campo, pastoreando as ovelhas, a ideia de eliminar o próprio irmão. Isso mesmo, eles não apenas pensaram, mas falaram e articularam um plano para matar... isso mesmo, assassinar o próprio irmão. Você tem noção do que isso significa?
É necessário muito rancor, muito ódio e uma profunda ferida na alma para desejar a morte do próprio irmão. E por quê? Apenas porque ele compartilhou alguns sonhos excêntricos? Isso justifica tal desejo? Atualmente, as pessoas têm menos filhos, não é? Aparentemente, apenas os muçulmanos ainda creem que povoar a terra é um mandamento divino. A maioria dos cristãos não segue mais essa premissa. Quando decidem ter filhos, é um ou no máximo dois. Preferem ser pais de animais de estimação.
Mas para alguém como eu, que cresceu em uma família tradicional com quatro irmãos, é sabido que desafios são comuns. E a geração dos meus pais, que se assemelhava à família de Jacó com seus 12 filhos... nossa, quantas histórias para contar! Então, em um dia qualquer, os dez irmãos mais velhos de José estavam no campo, trabalhando, batendo papo, tramando, até que um deles teve a infeliz ideia: "E se a gente desse um fim nesse garoto?" Imagine o ambiente naquela família! Dez pessoas, dez irmãos conspirando para matar um dos mais novos. José tinha apenas 17 anos. Você levaria a sério o relato de um sonho de um adolescente de 17 anos? Chegaria ao ponto de matar seu próprio irmão por isso? "Olha lá. Ele está vindo, o sonhador! Vamos aproveitar que estamos longe de casa para resolver isso. Podemos sujar, rasgar suas roupas e manchá-las de sangue, depois levamos ao pai e dizemos que uma fera o atacou e nada restou dele". Que ideia genial. Então, um dos irmãos mais velhos, que tinha um pouco mais de sensatez, mas não muita, sugeriu outra coisa. ‘Será que precisamos matá-lo? Podemos vendê-lo como escravo. Em casa, diremos que uma fera selvagem o devorou e pronto. Não há necessidade de matar. É só pegar uma daquelas caravanas de estrangeiros que sempre passam por aqui. Eles levarão o menino e ninguém mais terá notícias dele... Olha, estão vindo uns ismaelitas. Se comprarem, vão levar José para tão longe que nunca mais ouviremos falar dele!’ E assim foi feito.
Você consegue se colocar no lugar de José?
A própria família! Os irmãos! É inacreditável! Sim, acontece em alguns casos. Quando as pessoas do ambiente onde você deveria se sentir mais seguro e protegido se voltam contra você... é muito difícil. E por quê? Só porque compartilhei alguns dos meus sonhos? Bem, provavelmente havia algo mais. Inveja, ciúmes, ser o queridinho do pai... Mas, sério, querer me matar, me vender como escravo? Me mandar para longe como se eu fosse uma mercadoria indesejável? Isso é demais. Meu mundo desabou. Todos estão contra mim. Ninguém me ama. Assim, fica difícil viver. Que sonhos posso ter agora?
A Bíblia não menciona que José se entregou à autopiedade. Pelo contrário, ele permanece silencioso. É levado como um cordeiro mudo e sem defesa. O texto não relata um murmúrio, um lamento sequer, nem uma única palavra amaldiçoando seu destino. Absolutamente nada que indique que José sentia pena de si mesmo. Quando a caravana chegou finalmente ao Egito, os ismaelitas que tinham comprado José o venderam a Potifar, "oficial do faraó e capitão da guarda" (Gênesis 37.36).
José poderia ter pensado: "Sabe de uma coisa? Vou ser o pior escravo que o Egito já viu. Farei apenas o essencial. Não escolhi estar aqui. Estou aqui à força, contra minha vontade. Vou adotar a lei do menor esforço e, na primeira oportunidade, eu fujo daqui." No entanto, José se empenha no trabalho que tem a fazer. E o faz com excelência. Em vez de lamentar a vida, as circunstâncias, ou de tramar vingança contra seus irmãos, ele encara o desafio, faz o que deve ser feito e o faz bem. E o resultado? José prospera e abençoa as pessoas ao seu redor. Então você pensa: ótimo, agora sim, só vem bênção, só vem vitória. Oh, Glória!
José estava indo tão bem que acabou sendo promovido e passou a morar na casa do capitão da guarda, ganhando mais responsabilidades. O texto bíblico relata que Potifar "ficou satisfeito com José e o fez administrador de sua casa, confiando-lhe todos os seus bens" (Gênesis 39.4). Para José, as coisas pareciam ir incrivelmente bem. Para um escravo? Um estrangeiro? Para alguém rejeitado pela própria família, cujos irmãos desejavam sua morte? Entretanto, surgiu outra armadilha. José, jovem e vigoroso, chamava a atenção das moças, mas não apenas das jovens egípcias. A esposa de seu patrão também começou a investir nele. Que complicação.
Como escapar de tal confusão? José resistiu. "Não, que isso, você é casada, eu sirvo ao seu marido, jamais poderia ter algo com você, mulher, sai fora!" Entretanto, a mulher persistiu. Quando José percebeu que a situação não terminaria bem, ele fugiu correndo. A mulher partiu para cima dele, agarrando-o, e José saiu em disparada... Porém, ela conseguiu agarrar a túnica de José, ficando com a peça de roupa em mãos. Para se vingar, acusou José de tê-la assediado. A quem você acha que as pessoas acreditaram? Em qual história você acha que Potifar acreditou? Na de José ou na da esposa?
Infelizmente, pessoas com mais poder e status tendem a prevalecer com suas mentiras e narrativas. Instituições e indivíduos que detêm títulos e cargos de poder influenciam significativamente as pessoas. Potifar, como era de se esperar, acreditou na esposa, e José foi parar na prisão. Lamentavelmente, o mundo é assim, e a justiça nem sempre triunfa. José foi encarcerado. Ele não foi aprisionado por ter cometido algum erro, mas sim porque agiu corretamente. Às vezes penso que, como nunca fui preso, talvez esteja fazendo muita coisa errada 😕.
José está preso. Como será que ele se sente na prisão? Será que ele está chutando as paredes? Amaldiçoando os irmãos que o enviaram para aquele lugar horrível? Xingando a mulher do patrão por seduzi-lo e depois mentir? Maldizendo Potifar, pensando 'sempre fiz tudo por esse homem, fui leal, nunca menti. E ele me joga na prisão sem sequer considerar minha versão dos fatos?' "O mundo é tão injusto. Justo quando as coisas pareciam que iriam melhorar para mim. Estou desistindo. Sou mesmo um fracassado. Só me dou mal! Não é justo!"
José está preso, mas não se lamenta. Ele não se coloca como vítima da sociedade. A Bíblia sugere ser diferente. Não vemos um José abatido ou batendo nas paredes da cela. Ausentes estão as palavras de amargura ou anseios de vingança. Seria compreensível se José expressasse alguma reclamação ou frustração, mesmo que momentaneamente. Contudo, o que observamos na prisão é o mesmo José que foi escravo de Potifar. Rapidamente, ele conquista a confiança do carcereiro, que o coloca à frente de todos os prisioneiros, tornando-o responsável por tudo o que acontecia ali, conforme Gênesis 39:22.
"Acabei aqui injustamente, vou me dedicar à musculação, fazer tatuagens, causar impacto, aprender com os astutos daqui e, quando sair, todos verão, vou confrontar cada um!" Não, nada disso. José é o tipo mais "careta". Ele fará o que sabe. Vai gerenciar, estabelecer ordem, planejar. Vai se empenhar em melhorar o lugar, transformar o ambiente para o bem de todos ali. Inacreditável, mas é a realidade! Está tudo aqui, é só ler Gênesis!
O texto relata que o carcereiro não tinha preocupações na prisão, pois José gerenciava tudo. O carcereiro estava tranquilo, reconhecendo que José era uma pessoa comprometida e confiável. José não se entregava à autopiedade, nem se lamentava pelas injustiças passadas. Ele enfrentava os desafios de frente. Se o leite derramava, ele não hesitava em buscar a solução. José encontrava-se em uma prisão especial, destinada aos que infringiam as leis da alta corte egípcia. Foi lá que, em um determinado dia, chegaram dois homens acusados de ofender o próprio faraó. Eles eram funcionários de extrema confiança do faraó, especificamente o copeiro e o padeiro reais, responsáveis pela alimentação da corte. O caso ainda estava sendo investigado, e ambos foram detidos preventivamente até que se determinasse qual deles era realmente o culpado.
Num dia qualquer, José percebeu que seus companheiros estavam tristes, abatidos e desanimados, talvez se sentindo vítimas das circunstâncias. José, porém, não se juntou a eles para lamentar. Ele era atento e empático, sempre observando o que acontecia ao seu redor.
Os novos colegas de prisão estavam inquietos com os sonhos que tiveram na noite anterior. José encorajou-os a compartilhar seus sonhos e, em seguida, interpretou o significado de cada um. Ambos estavam presos, mas uma investigação estava em andamento para encontrar o verdadeiro culpado. Três dias após os sonhos, foram levados perante o rei. Conforme José havia interpretado, um foi condenado à morte e o outro foi libertado e restabelecido em seu cargo de copeiro real.
Parece que José passou vários anos encarcerado. Segundo o autor do Gênesis, aproximadamente dois anos depois do episódio em que interpretou os sonhos dos servidores do rei, o próprio Faraó foi assolado por sonhos enigmáticos. O Egito contava com seus magos e sábios, que foram chamados para decifrar os sonhos do soberano. Contudo, nenhum conseguiu oferecer uma explicação convincente. Foi nesse momento que o copeiro recordou-se de José e de sua habilidade precisa em interpretar sonhos anteriormente, e rapidamente o recomendou ao Faraó.
O faraó ordenou que lhe trouxessem o prisioneiro que interpretava sonhos. Para ser breve: José interpretou o sonho do Faraó e, além disso, ofereceu um plano completo para o governo lidar com a situação. O sonho previa sete anos de abundância seguidos por sete anos de escassez. A fome afetaria não apenas o Egito, mas também as regiões vizinhas, resultando em uma crise sem precedentes. José disse: "Veja, seu sonho indica que haverá esta sequência de eventos. No entanto, existe uma solução, e eu posso compartilhá-la se me permitir." José não só interpretou o sonho para o rei, mas também sugeriu uma estratégia que não estava implícita no sonho.
Eu insistirei em mostrar para você exatamente como está na Bíblia. Veja o que José disse ao Faraó do Egito:
"Que o Faraó procure um homem sábio e prudente e o coloque no comando do Egito. O Faraó deve também designar supervisores para arrecadar um quinto das colheitas do Egito durante os sete anos de abundância. Eles deverão juntar o máximo possível durante os anos prósperos que se aproximam e acumular trigo, que será guardado sob a autoridade do Faraó nas cidades. Esse armazenamento servirá como reserva para os sete anos de escassez que se abaterão sobre o Egito, para que a terra não seja devastada pela fome" (Gênesis 41.33-36).
José não apenas relatou o problema, mas também apresentou imediatamente uma solução viável. Ele tinha um plano, uma estratégia para superar a adversidade iminente. Não apenas o Faraó, mas todos os seus conselheiros ficaram impressionados e reconheceram que José tinha um plano sólido. Ele realmente é impressionante!
Acompanhado de seus conselheiros, o poderoso rei do Egito se volta novamente para o prisioneiro há anos esquecido: "Já que Deus lhe revelou tudo isso, não existe ninguém tão prudente e sábio quanto você. Você governará meu palácio, e todo o meu povo obedecerá às suas ordens. Apenas em relação ao trono serei superior a você". E o faraó declarou: "Concedo-lhe agora o governo de toda a terra do Egito" (Gênesis 41.39-41). Quem imaginaria, José!? Quase morto, vendido como escravo pelos próprios irmãos, injustiçado, preso, esquecido. Resumindo a história, José salvou o Egito da fome. E não apenas o Egito; povos das regiões vizinhas, ao saberem que o Egito tinha reservas de alimento, dirigiam-se para lá em busca de socorro. E, vejam só: até sua própria família, seus irmãos, foram ao Egito em busca de comida.
E então acontece algo extraordinário. José reconhece seus irmãos, mas eles não o reconhecem. José envelheceu e se tornou o primeiro-ministro do Egito, um homem de grande poder. Quem diria que o jovem vendido como escravo alcançaria tal posição? José se vê diante da oportunidade perfeita para se vingar. O que ele fará? Ele elabora um plano para que seus irmãos retornem ao lar e tragam todos, inclusive o idoso pai Jacó, ao Egito. José se revela e todos choram; é uma catarse coletiva repleta de surpresa, alegria, medo e alívio. E José perdoa sua família, perdoando os irmãos por tudo o que fizeram.
José pratica um princípio central da fé cristã, essencial para reparar relações entre as pessoas: o perdão. Ele emprega a ferramenta mais poderosa que existe: perdoar. Não há solução mais eficaz para resolver conflitos e se desvencilhar das correntes do passado do que perdoar. José perdoava, e por isso, não se deixava aprisionar pelo ressentimento, pelas mágoas ou pela sensação de injustiça; ele não dispunha de tempo para autocomiseração.
Com sua atitude, ele auxiliou muitos, incluindo sua própria família. A história de José, conforme narrada em Gênesis, mostra que Deus o acompanhava. E foi a forma como ele confiou e enfrentou cada adversidade que permitiu a Deus realizar feitos ainda maiores através de sua vida.
José, além de realizar um excelente trabalho em todo o Egito, teve esposa e filhos. Veja como ele nomeou seus filhos:
"Ao primeiro, José chamou de Manassés, dizendo: 'Deus me fez esquecer de todas as minhas aflições e da casa de meu pai'. Ao segundo, deu o nome de Efraim, pois 'Deus me fez prosperar na terra do meu sofrimento'" (Gênesis 41.51,52).
"Eu sou José, o irmão que vocês venderam para o Egito! Não se angustiem nem se culpem por me terem vendido, pois foi para salvar vidas que Deus me enviou à frente de vocês. Já se passaram dois anos de fome na terra, e nos próximos cinco anos não haverá plantio nem colheita. Mas Deus me enviou antes de vocês para preservar um remanescente na terra e para salvar suas vidas por meio de um grande livramento. Portanto, não foram vocês que me enviaram para cá, mas sim Deus. Ele me fez governador do Faraó, administrador de seu palácio e regente de todo o Egito. Retornem rapidamente ao meu pai e digam-lhe: 'Assim diz seu filho José: Deus me fez senhor de todo o Egito. Venha até mim sem demora'" (Gênesis 45.4-9).
Pessoas que buscam e encontram força em Deus, que se detêm para refletir sobre os eventos da vida e permitem que Deus examine seus sentimentos, não permanecem imóveis, lamentando-se ou remoendo o tratamento recebido dos outros. Elas avançam, conscientes de que Deus tem mais à frente, novas bênçãos preparadas!