quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Tendências na Igreja Pós Pandemia (2)

 2. Aceleração do Declínio das Denominações Tradicionais 

Quando falamos em tendências, é isso: uma inclinação, uma provável direção para onde as coisas podem se mover. Quer dizer que há indícios de que as coisas parecem concorrer para aquela determinada direção. Porém, não se trata de nenhum exercício de adivinhação ou de futurologia.


Com relação a este segundo caso, pode ser que haja uma aceleração no declínio de denominações cristãs históricas. Como já colocado na tendência anterior, uma eventual diminuição na frequência de membros aos programas da igreja, reforçaria aquilo que, agora, dizemos aqui. 

Não estamos falando do declínio da Igreja de Jesus Cristo. Sequer dos movimentos locais dessa igreja. Estamos nos referindo às denominações históricas tradicionais. Não é nenhuma novidade que estas já vem demonstrando seu declínio há algum tempo. 

Grandes instituições, com seu legado histórico e também grande peso burocrático, encontram maior resistência e são menos ágeis diante da necessidade de mudanças. E, se há uma realidade de rápidas mudanças ocorrendo, esta época é agora. 

Já não bastasse o avanço natural na tecnologia, a pandemia veio para acelerar tudo isso de um modo jamais visto. Não há dúvidas de que um decréscimo na participação das pessoas aos programas da igreja inevitavelmente levará também à diminuição de receitas. O quanto as organizações estão preparadas para lidarem com isso e se readequarem? 

A exemplo do estado, muitas denominações se organizaram em estruturas pesadas, burocráticas, caras e ineficientes. A crise da hora pode ser uma oportunidade ou, simplesmente, mais um golpe sobre denominações decadentes. Talvez, para algumas, um golpe de misericórdia fatal!

A oportunidade também pode estar se apresentando. Muitas pessoas estão cansadas de mensagens rasas, com propostas de igrejas personalistas e que abusam da fé dos seus fiéis. Como aproveitar o que resta de um legado de seriedade e sobriedade que ainda é reconhecido por alguns quando o assunto é uma igreja histórica? 

A realidade mostra também que abrem inúmeras igrejas independentes enquanto que, por outro lado, congregações ligadas a denominações histórias vem fechando as portas. Como lidar com esta tendência mais orgânica, informal e que se organiza em redes frente a herança institucional, de paróquias e ocupação geográfica? 

Aos líderes e pastores cabe a reflexão e o planejamento. O que teremos daí só o tempo dirá!

domingo, 10 de janeiro de 2021

Tendências na Igreja Pós Pandemia (1)

1. Diminuição na frequência aos Cultos 

Por razões diversas, pessoas que antes participavam regularmente do culto numa igreja local não retornarão para essa rotina quando a pandemia passar. 
Entre as razões podemos conjecturar que essas pessoas encontraram outro local para congregar. A diversidade de programações online levou muitos cristãos a conhecerem diferentes igrejas, pastores e estilos de pregação. 

Outra razão, pode ser, que simplesmente a pessoa não acredite mais que faz alguma diferença frequentar os cultos numa igreja local. Seja porque simplesmente acha irrelevante e não pretende mais fazê-lo, ou, porque passou a acreditar que basta consumir os programas online que continuarão a ser ofertados. 

Fato é que os pastores devem estar preparados para uma diminuição na frequência de seus cultos. Esta será uma tendência mais comum nas igrejas maiores. Em congregações menores a recuperação poderá se notar com mais rapidez. 

Fica o desafio para que pastores e lideranças pensem como pretendem lidar com esta situação.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Vinho, Café e Igreja

O desenvolvimento do paladar e o consumismo nos modelos de igreja

Bebidas como o vinho e o café possuem características em comum. Ambas podem ser encontradas numa variedade quase infinita. 

Eu cresci em meio aos cafezais. Estados como Minas Gerais e Espírito Santo são ricos nessa cultura que fascina tantas pessoas. Além das características dos diferentes cafés é possível falar também de variedade e qualidade. 

Hoje moro numa região de vinícolas. A serra gaúcha é famosa por seus parreirais, uvas, sucos e vinhos. Em minhas andanças pelo sul do nosso Brasil fui descobrindo que, assim como fazíamos no interior do estado do Espírito Santo, colhendo, secando, torrando, moendo e passando o nosso próprio café, também muitos pequenos produtores de uvas fazem o seu suco e o seu vinho artesanal. 

Relembrando aquela experiência com o café, uma coisa que hoje consigo discernir é que não havia muita preocupação em procurar fazer algo requintado, especial, diferenciado. As famílias simplesmente tomavam café. Era aquele único café: preto, puro, geralmente servido num copo americano. Especialmente o café do tipo arábica que, diziam, é mais próprio para se beber. Os gostos não estavam num refinamento que discerne as sutilezas do sabor de um 'bom' café. Podia variar na torra, se mais fraco ou mais forte, mais quente ou mais frio, com o sem açúcar. Geralmente ficava por aí! Assim, a maioria dos produtores de café, falando especialmente dos pequenos produtores, talvez ainda hoje jamais tenham provado aquilo que nos grandes centros se toma como um 'bom' café, os cafés finos e tal. Eles tomam café com pão, com  brote, com bolo, com língua (expressão utilizada quando a situação era precária e não havia o que comer - só tinha mesmo o cafezinho puro, sem nada pra comer ou acompanhar).

Especialistas concordam que o paladar do ser humano é treinado. Podemos desenvolver o gosto pelas coisas. Existe, inclusive, a expressão 'alfabetizar o paladar'. Quem nunca lutou contra a dificuldade de fazer as crianças comerem coisas saudáveis? 

Para não tornar essa introdução longa demais, fato é que se insistirmos em provar diferentes vinhos bem como diferentes cafés, notaremos que, com o tempo, não conseguiremos mais tomar aquelas bebidas feitas de qualquer jeito, ignorando as característica do fruto, a falta de cuidado no processo de produção, desatenção à qualidade da matéria prima. Diríamos agora que não mais tomamos café ou vinho. Somos apreciadores de um bom café ou um bom vinho. Nunca mais você conseguiu ir ao supermercado e sair de lá com um daqueles garrafões de vinho barato ou com uma lata de café solúvel. 

Se você ficou curioso para saber aonde pretendo seguir com essa conversa toda ou, o que isso tem a ver com esse blog, eu digo: muitas igrejas, com um desejo e um planejamento bem intencionado de serem missionais, contemporâneas, seguiram bons princípios que geraram crescimento da congregação, maior frequência aos cultos e programas da igreja. Assim como bons cafés e bons vinhos miram um público mais seleto, de gosto refinado, muitas igrejas também trataram de aprender com os Shopping Centers.

Aplicaram princípios que melhoraram a qualidade de suas instalações, oferecendo banheiros limpos e cheirosos, espaços amplos e confortáveis, estacionamentos próprios e seguros, espaços e programas excelentes para as crianças, uma pregação cativante, com temas inspiradores e atuais, músicos profissionais capazes de conduzir a uma experiencia de adoração envolvente, tudo com um planejamento de comunicação e marketing profissional, garantindo que a semana seguinte será ainda melhor. Nada disso é, em si, ruim. Assim como não há qualquer problema em querermos desfrutar de um bom vinho. O problema é que, assim como quem desenvolveu seu paladar para apreciar um bom café e um bom vinho não consegue mais tomar 'qualquer' café, 'qualquer' vinho, essa ênfase no crescimento da igreja, na igreja atraente, confortável e sofisticada, acaba focando um público seleto, um segmento classe média da sociedade já bastante acostumado com esse tratamento vip. Um pessoal exigente. Outros, que em termos de experiencia de igreja, foram mimados e tiveram seus 'paladar' eclesiástico alfabetizado nesses novos modelos, caso um dia se mudem, ou, se decepcionem e queiram procurar outra igreja, dificilmente se acostumarão novamente aos modelos, digamos, 'artesanais' ou, simplesmente, tradicionais de igreja. 

Os garrafões toscos, as garrafas pet, as latas e vidros de solúvel, foram feitos para as massas. É o simples e barato que não atrai mais. Minha coleção de rolhas revela que aprendi a apreciar as coisas finas!

Essas pessoas peregrinarão em busca, não do Evangelho, mas, de uma experiencia de consumo satisfatória para elas. É o que Alan Hirsch chama de modelo de igreja alternativa que, geralmente, se apresentam como espaços atraentes ao cliente que busca por espiritualidade e experiência religiosa. O problema é que esse tipo de proposta sempre poderá ser superada por outra. E, o consumidor tende a optar por aquele que lhe oferece maiores vantagens ou, algo mais ao seu 'gosto'. Não surpreende termos um público que se declara cristão ao mesmo tempo que não consegue se encontrar em nenhuma comunidade local. 

O mercado de consumo forma consumidores ávidos pela novidade, pela próxima degustação, de preferência, grátis! 

O primeiro milagre de Jesus foi transformar água em vinho em uma festa. E, ao que tudo indica, foi um bom vinho. Não há nenhum problema em aprendermos a apreciar e a desenvolver coisas boas. Deus criou o mundo e na sua avaliação tudo era bom, muito bom. Nossos ambientes, programas e estruturas não precisam ser algo precário, sujo, remendado, escorado, desconfortável. Jamais. 

No entanto, cabe o desafio de refletirmos se estamos conseguindo desafiar as pessoas com o Evangelho de Jesus Cristo, atuando para formar comunidades de fé, ou, simplesmente temos investido tempo, recursos e energias para satisfazer um ímpeto consumista que confunde a fé com produtos bem embalados em mensagens de auto ajuda. Uma coisa é satisfazer consumidores. Outra é fazer discípulos. O que Jesus pediu é o segundo. Nas palavras de Alan Hirsch, "o consumo é prejudicial ao discipulado". 

Por mais que possamos desenvolver o nosso paladar para as boas coisas da vida, o indispensável continuará sendo aquilo que nutre, matando a sede e a fome todos os dias.

Você já conhece o nosso site?

www.teologiamissional.com.br

terça-feira, 15 de dezembro de 2020

A Igreja Missional na Bíblia

 Para você que se interessa pelo tema da Igreja Missional, sugerimos este excelente livro de Michael Goheen. Trata-se de uma abordagem prática e objetiva, perpassando pela Bíblia em busca da compreensão missional. CLIQUE AQUI para adquirir.

O autor é um dos maiores especialistas sobre o tema. O texto é dinâmico e a leitura é agradável!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

As Parábolas de Jesus

 Você também é um admirador das parábolas que Jesus contou?

Nos Evangelhos nós encontraremos quase 40 parábolas contadas pelo mestre ao longo de seu ministério. Em nosso Canal no Youtube comentamos algumas delas. 

Nesta primeira temporada da série nós escolhemos 10 parábolas de Jesus para comentar e, assim, oferecer a essência da mensagem destas parábolas pra você. 

CLIQUE AQUI para acessar a Playlist. 

Tem mais! Estamos disponibilizando um curso sobre as Parábolas. Interpretar bem o texto bíblico é fundamental para todo e qualquer cristão. Ainda mais para pastores, pregadores, líderes de pequenos grupos e estudantes de teologia. 

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domingo, 29 de novembro de 2020

O 'Novo' Normal

Eu não sei se você é como eu, mas, costumo repugnar logo as 'tendências da moda'. Isso se aplica, inclusive, aos chavões que repetidamente surgem para denominar algo. O mais recente é o 'novo normal'. 


O conceito se tornou comum a partir da pandemia do novo coronavírus, em 2020, para se referir à realidade que surgirá após a pandemia. Para muitos analistas o impacto dessa pandemia será tão forte que causará transformações nas mais diversas áreas da realidade e da vida das pessoas. 

Se, por um lado, podemos admitir que sim, muitas coisas vão mudar, por outro, é certo também que sabemos menos do que gostaríamos. O frenesi causado pela pandemia, a ansiedade por estar vivendo um momento histórico, o desejo de fazer a melhor leitura da realidade e, consequentemente, as melhores previsões quanto ao futuro 'pós-pandemia' geraram muitas lives, entrevistas, artigos, posts, livros e etc. A realidade da igreja não foi diferente. 

Com esse texto estou utilizando a primeira vez o termo 'novo normal'. E, para dizer que não gosto dele! Ainda assim, pode render reflexões. Um fato que parece comum em nossos dias é que, cada vez menos, as pessoas gostam de perguntas. Queremos respostas. Preferimos as soluções. No entanto, desculpe, é inevitável. Vou perguntar: 
o que é 'normal' pra você?


A palavra 'normal' significa, basicamente, aquilo que está conforme a norma, uma regra. Portanto, seria mais coerente falarmos sobre o comum e o incomum (?). Assim, muitas coisas que as pessoas tem em comum, acaba como que se tornando uma norma. É normal que as pessoas busquem um trabalho para se sustentarem. É normal que as pessoas frequentem supermercados para comprar itens de primeira necessidade. É normal que as pessoas busquem segurança. E, assim por diante. 

Deu para perceber por que parece um exagero falar de um 'novo' ou um 'outro' normal? 

Dificilmente teremos tão grandes transformações naquilo que é comum aos seres humanos. Por outro lado, sim, é plausível esperar algumas mudanças. Mas, estas sempre ocorreram ao longo da história. 

Apenas para ficarmos nas últimas décadas, a ascensão da internet não trouxe um 'novo normal' para a vida das pessoas? 

Eventos históricos, sejam positivos ou negativos, sempre ocorreram e continuarão a ocorrer. E, nós estaremos sempre prontos a nos adaptarmos conforme a necessidade. Ainda assim, o básico pouco muda: carecemos de relacionamentos, afetividade, aceitação, alimento, segurança, descanso, lazer, trabalho, prazer. Embora tenhamos tudo isso em comum, a maneira como buscamos saciar nossa sede e a nossa fome de vida pode variar. 

Suspeito que no pós-pandemia as pessoas irão  praia, frequentarão barzinhos, farão festas, lerão livros, passearão com sua família, deitarão na grama em parques, irão aos estádios de futebol, enterrarão seus mortos, celebrarão um novo nascimento, irão às compras, jogarão em vídeo games, frequentarão igrejas em celebrações diversas, enfim, tudo 'normal'. 

Que muitas coisas serão diferentes não há dúvida. Mas, isso sempre foi assim. E, sempre tivemos que nos adaptar. Se, agora, existem mais opções 'online', seja de qual produto for, o básico permanece: atender a um desejo ou necessidade humana. Entre o vício e a virtude, continuaremos lutando com nossos instintos, nossos medos, nossos desejos, nossos sonhos. O 'velho normal'.

Assim, minha aversão não é pelo novo em termos daquilo que surge e muda. Mas, na utilização irrefletida de rótulos, chavões, termos que passamos a repetir como se fossem dotados de um misticismo capaz de, por si só, transformar algo. É como se vivêssemos em busca de um novo abracadabra a cada vez que nos cansamos do último. Por mais que estejamos vivenciando um misticismo semântico em várias frentes ideológicas, parece ingênuo achar que a mera utilização de determinados termos trará mudanças como que por encantamento ou alguma mágica!

Que venha o novo! E, não um qualquer. 

Aquele que estava assentado no trono disse: 
"Estou fazendo novas todas as coisas"

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Um pastor deveria se filiar a um partido político?

O que é um partido político?

Um partido político representa o desejo e a visão de um determinado grupo de pessoas da sociedade. Reúne pessoas que assumem uma ideologia em comum. Alguns pontos são centrais quando nos referimos ao partido político. Destaque para seu caráter associativo, a disputa pelo poder político em uma sociedade e, as motivações que levariam alguém a se filiar e disputar posições. 

Os partidos políticos, assim, numa realidade de política institucional e disputa de poder político para cargos de governo, possuem forte influência. Por seu caráter representativo dentro de um contexto democrático, um partido político é visto como uma organização que defende a visão e os interesses de uma parcela da população. Como os interesses e as visões de mundo divergem, é natural que haja diferentes partidos propondo-se a defender diferentes interesses.

Com base nesta resumida definição, poderíamos afirmar que quanto um pastor ou um padre se filia a um determinado partido político ele está explicitando sua preferência político-partidária e, até mesmo, ideológica. Isso, por si só, já constitui potencial de crise numa igreja considerando o caráter plural de uma comunidade ou membresia. Por mais aberto, democrático e tolerante que este líder religioso seja, foge ao seu controle o fato de que as pessoas passarão a julgá-lo segundo seus próprios compromissos políticos e ideológicos. 

Cada vez que um pastor sobe ao púlpito para pregar é necessário lembrar que o público diante de si é composto por uma pluralidade de ideias e posições. A partir do momento em que o pastor assumiu um determinado partido, uma divisão já se instala na comunidade. Admitimos que isso pode variar de acordo com o grau de consciência e engajamento político de uma comunidade de fé. O compromisso político ideológico de cada membro ofuscará a mensagem anunciada. A tendência, como é sabido, é simpatizarmos com aqueles que compactuam com a nossa visão de mundo. E, no contexto da disputa político partidária, no outro partido estão os adversários. 

Ao pastor, em sua defesa, cabe o argumento de que optou pelo melhor partido, por aquele que, em seu entendimento, mais se aproxima de uma causa, digamos, cristã, ou de justiça. Mediante isto, porém, ouvirá acusações e desmentidos de militantes de partidos concorrentes que reivindicam para si e sua sigla as mesmas virtudes. Quem, afinal, declararia simpatizar com um partido tirano, injusto e coisas do tipo? 

Antes de representar os interesses de um determinado grupo de cidadãos, um pastor se apresenta como uma pessoa vocacionada por Cristo e a Igreja para uma função específica: pregar o Evangelho e administrar os Sacramentos. Mediante isto, a serviço da missão de Deus, não cabe qualquer partidarismo ou discriminação quanto às pessoas em geral. 

Ademais, caberia ainda a pergunta pelo motivo que levaria um pastor a se filiar a um partido político. Pois se tiver clareza de sua vocação enquanto ministro religioso à serviço da Igreja de Jesus Cristo, onde mais terá, diante de si, público tão carente, tão plural, tão amplo em possibilidades a quem servir e amar? Por outro lado, caso sinta-se confuso em sua vocação, imaginando se não deveria adentrar também a carreira política de forma mais engajada, o que o impediria de fazê-lo? Nenhum impedimento desde que tenha clareza e liberdade para fazer a sua escolha. 

Muitos pastores certamente dariam bons representantes nas mais diferentes esferas de governo. A política é, sem dúvidas, um campo que requer bons representantes. É uma vocação legítima. Para isso, no entanto, deveriam respeitar os membros da igreja e os cidadãos em geral e abrir mão do ministério eclesiástico. Uma vez na política, passam por representantes de determinados segmentos da sociedade. Não gozarão mais da unanimidade (embora precária) de uma comunidade cristã. Ao fazê-lo, se afastarão também de outra tentação que consiste em instrumentalizar a igreja para os seus próprios fins políticos. Devem abrir mão, também, do título do qual tanto se orgulham, por vezes. Um vereador, um deputado ou prefeito não é chamado a pastorear, mas a legislar e gerir sobre o erário público. 

Afinal, 
um pastor deveria se filiar a um partido político?

A resposta, portanto, para a nossa pergunta, é NÃO. Um pastor, no exercício de sua função pastoral, estando a frente de uma igreja, não deveria se envolver abertamente com a política partidária. Caso a pregação da palavra chegue a causar alguma divisão, esta é uma possibilidade bíblica (Lucas 12.51-53). A divisão causada por partidarismo e politica se assemelha mais ao escândalo que, na igreja, somos aconselhados a evitar (2 Coríntios 6.3). 

Que fique claro ainda não tratar-se de uma proibição. Não estamos, de modo algum, sugerindo que esta deve ser uma questão do tipo 'pode' ou 'não pode'. Embora as denominações, enquanto instituições religiosas independentes, possam criar seu próprio regimento quanto a esta questão.

Ainda uma última palavra envolvendo o Evangelho e a política partidária. Um bom teólogo que é também um bom pastor sabe que a causa do Evangelho transcende toda e qualquer causa política e ideológica. Jesus é a medida perfeita de tudo o que é reto, belo, justo e bom. Assim, qual causa seria mais nobre do que esta? Anunciar o Evangelho que declara a graça de Deus, o perdão dos pecados, a reconciliação entre todas as coisas. Cabe, assim, aos pastores, serem fiéis ao seu chamado de pastorear um rebanho de ovelhas das mais diferentes matizes e, diante do governo e da classe política, ser uma voz profética. Caso optem pela carreira política, que ali sirvam fielmente de modo a serem uma benção para os cidadãos que representam!

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Tomar Decisões Cansa!

Por: Rodomar Ricardo Ramlow

A vida de um pastor consiste em tomar decisões o tempo todo. São decisões administrativas, ministeriais, pastorais, familiares, financeiras. 

Num ano atípico como 2020 a necessidade de tomar decisões tem sido ainda maior. 

Será que alguém está preparado para tomar todas as decisões necessárias somente pelo fato de ser um pastor? 

Muitos líderes e pastores podem sofrer de cansaço de decisões. Algo que pode pesar nesse cansaço é o fato de o pastor não saber para onde está conduzindo a igreja. 
Todo líder se vê diante da responsabilidade de ter que tomar decisões frequentes. Não existe nada mais complicado do que ter que tomar decisões sem saber para onde você está liderando a igreja. 

Um líder, ao se reunir com sua equipe, precisa ser capaz de responder duas perguntas básicas: 

1. Para onde estamos indo como Igreja? 
2. Por que fazemos o que fazemos? 

Além de você e a sua equipe, a igreja precisa ter respostas claras para estas questões. Se nem você e nem a sua equipe conseguem articular respostas claras e concretas para estas perguntas, pare tudo. Está mais do que na hora de vocês trabalharem em uma nova visão, uma missão e uma estratégia para a igreja. 

Trabalhem juntos em busca das respostas que lhes digam claramente para onde vocês estão seguindo como igreja e porque fazem o que fazem. Muitas igrejas já trabalharam para desenvolver sua visão e sua missão. Infelizmente, tudo acaba numa apostila ou num quadro emoldurado na parede. 

Visão e missão sem estratégia ainda não ajudam na tomada de decisões. 

Você precisa de uma estratégia claramente definida. A estratégia ajuda no 'como' fazer as coisas no dia a dia e alivia o líder sobre a tomada de decisões. 

Um bom planejamento oferece a base para a tomada de decisões. Quando uma igreja possui um bom projeto, as decisões não recaem mais sobre as costas do pastor ou do presbitério, mas, resultam de uma construção conjunta. 

O planejamento fornece clareza para as decisões. Existe uma referência para onde olhar e onde se basear. Não depende mais de você! 

Planejar dá trabalho. Mas, acredite, não planejar, dá muito mais!

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

O Que Você Vai Ser Quando Crescer?

Por: Rodomar Ricardo Ramlow

Já não é mais assim que, no Brasil, todo menino quer ser um jogador de futebol e toda menina sonha em ser modelo.

Os novos tempos e as novas tecnologias permitiram também às crianças ampliarem os seus horizontes.

Enquanto, sim, ainda muitas sonham em ser astronauta, há também tantos que sonham em ser youtuber ou tiktoker.

Embora não haja qualquer necessidade de acelerar nada na vida das crianças, o fato é que as brincadeiras de infância acabam despertando a imaginação e influenciando, de alguma maneira, as futuras vocações.

Vocação é algo fundamental na vida de qualquer pessoa. É muito triste saber, no entanto, que tantas pessoas não podem dedicar-se ao seu verdadeiro chamado. Isso acontece por diversas circunstâncias.

Num país com tantas dificuldades econômicas e de educação como é o caso do Brasil, ter um emprego, para muitos, já é um sonho realizado.

Enquanto aguardamos dias melhores, podemos tentar fazer a nossa parte, aquilo que nos cabe, para somar na vida das pessoas.

Olhando para a minha própria trajetória, já trabalhei na lavoura, desde adolescente. Depois, trabalhei num bar, numa fábrica de costura, numa loja de conveniências, numa igreja e numa faculdade.

Enquanto não podemos nos dedicar àquilo que realmente queremos, precisamos manter e o foco e perseguir os nossos sonhos. Assim, nos fortalecemos na certeza de que muitas coisas em nossa vida são provisórias. São degraus, etapas de aprendizado e crescimento.

A verdadeira vocação está para além de trabalho, emprego, profissão e carreira. Descobrir isso é libertador. É uma reflexão que trabalha em nossa motivação, naquilo que nos move todos os dias.

Podemos trabalhar para ganhar mais dinheiro, obter uma promoção, sermos reconhecidos pelas pessoas, ou, simplesmente para trazermos o sustento para casa. Quando compreendemos a nossa vocação, no entanto, percebemos que se trata de dar a nossa própria contribuição ao mundo numa determinada área.

Para descobrir o seu lugar e fazer a diferença no mundo, é necessário compreender como funciona a vocação. 

Vocação tem a ver com chamado. É isso que a palavra vocação significa: um chamado. Uma voz que chama. Podemos imaginar a voz de uma mãe que chama o filho ou a filha para lhe auxiliar numa tarefa. Um pai que chama o filho para auxiliar na preparação do almoço.

Estas pequenas atividades inescapáveis do dia a dia, porém, ainda não tocam a profundidade e abrangência universal e existencial da vocação. 

Se a vocação consiste num chamado para dar a nossa própria contribuição no universo, então, a voz que chama é maior, está além da confusão de vozes humanas. Não basta um pai que deseja que eu seja advogado, uma mãe que gostaria que eu fosse médico, a universidade que me quer pós graduado e assim por diante.

É mais que um sonho. Vai além de nossos pais que tanto gostariam de ver realizado nos filhos os sonhos que eles mesmos viram frustrados em suas vidas. Vai além da demanda de um mercado frio, impessoal e competitivo.

Quando encontro a minha vocação, faço escolhas que nem todos compreenderão. Os critérios mudam. Promoções, maiores salários, status, poder, tudo isso fica para segundo plano. Haverá, até mesmo, quem te chame de louco por causa das coisas que você é capaz de abrir mão.

Ainda assim, vale a pena. Haverá também aqueles que te compreenderão. Estes, geralmente, são aqueles que te amam e que também já descobriram a sua própria vocação. Eles também ouviram a voz e atenderam o chamado.


domingo, 20 de setembro de 2020

Sobre Pastores Que Estão Prestes a Desistir

É difícil saber quem são as pessoas que leem textos como este aqui. Cristão em geral, imagino. Também líderes e pastores.

O tempo de pandemia gerou muita reflexão. Também na igreja, é claro. Muitas pessoas pararam para refletir sobre a vida, as prioridades, as coisas que realmente importam.

Recentemente uma famosa jornalista surpreendeu muita gente ao anunciar mudanças em sua vida. Ao deixar uma grande emissora focada em notícias ela afirmou que deseja priorizar seus propósitos daqui pra frente.

O exemplo serve para alertar a igreja sobre seus pastores. Em seu blog, o consultor de igrejas Thom S. Rainer afirma que tem se comunicado com muitas equipes pastorais durante o período da quarentena devido ao COVID-19. Sua constatação é que muitos desses pastores estariam demonstrando um forte desejo por deixar o ministério. 

Embora Rainer seja conhecido também em círculos internacionais, provavelmente ele esteja baseando suas informações mais ao contexto norte americano. Ainda assim, não nos parece difícil deduzir que pode ser, sim, uma tendência mais geral. Períodos como este que passamos não são comuns. A parada forçada certamente levou muitos de nós a refletir e repensar. O quanto tudo isso será capaz de gerar impulsos para mudanças mais radicais ainda está para ser constatado. 

No entanto, embora o caráter específico de muitas mudanças ainda não estejam tão evidentes, de uma coisa poucos parecem duvidar: haverá mudanças. No caso de pastores demonstrando o desejo de deixar o ministério para focar em outras carreiras, Thom Rainer afirma se tratar de uma tendência que a crise do COVID-19 apenas exacerbou. A mudança já era latente. 

Há um detalhe importante aqui. Rainer não afirma que esses pastores estejam tão somente frustrados e desejosos por abandonar o ministério. Certamente há, entre eles, alguns assim. Mas, acontece que há um desejo por novos modelos frente às igrejas negativas e apáticas que vem caracterizando parte do segmento cristão. 

Entre os motivos listados por Rainer, pastores estariam desejando mudanças em seu ministério porque também eles estão cansados com a pandemia. Pastores, geralmente, gostam de pessoas. E, estão sentindo falta do contato, dos relacionamentos, de pastorear. Tiveram tempo para refletir sobre tudo isso. E, se perguntam se uma retomada na rotina significa, de fato, poderem dar prioridade a sua verdadeira vocação. 

Tantos pastores também estariam cansados da politização que se fez em torno da pandemia. Veem suas igrejas divididas politicamente, fazendo das máscaras, do isolamento, do ter ou não ter eventos públicos muito mais uma bandeira política do que uma genuína preocupação com a segurança geral. 

Embora nem tudo se resuma a números, existe muita pressão sobre os pastores nessa área. O número de membros e a arrecadação financeira das igrejas recaem sobre os pastores. Muitos vivem a insegurança de como será daqui pra frente: os membros retornarão? A igreja conseguirá seguir em frente? Haverá recursos suficientes? Haverá necessidade de cortes? Será possível continuar apoiando todos os ministérios como antes? O futuro financeiro nebuloso gera ansiedade e medo. 

Muitos pastores estariam experimentando um crescimento no número de críticas recebidas depois da pandemia. Os motivos podem ser diversos. É evidente que os membros das igrejas também estejam cansados e angustiados. Para muitos, o alvo mais evidente das críticas é o pastor. Sem falar da pressão de membros que exigem posicionamentos públicos de seus pastores frente a temas políticos e ideológicos diante dos quais é difícil se posicionar sem se comprometer com algum segmento e, consequentemente, desagradar ainda mais. 

Há ainda muitos pastores que experimentaram aumento na carga de trabalho. Embora muitas pessoas vejam o trabalho pastoral meramente como executar e coordenar programas, a realidade é que o serviço pastoral vai muito além disso. A realidade de pandemia obrigou a muitos a se adequarem para continuarem parecendo relevantes. O desafio da realidade digital levou a novos aprendizados, mais esforço, novas atividades. Tudo isso aliado ao fato de que a demanda por atendimento pastoral cresceu durante a pandemia. 

Enfim, pastores também sentem se esgotados, pressionados e desanimados. 

Talvez nem todos sintam-se encorajados a declarar suas intenções. Mas, não será surpresa se você também ouvir de seu pastor que ele está desejando mudar.