terça-feira, 30 de junho de 2020

Igreja Digital


Qual igreja surgirá após a quarentena? 

Das lives e dos textos disponíveis muitos se fazem esta pergunta. O que podemos dizer mesmo é que ninguém tem essa resposta. Podemos, no máximo, arriscar algumas tendências. Ainda assim, a igreja de Jesus possui características que nenhuma pandemia seria capaz de alterar. 

Um assunto sobre o qual muito se fala é da igreja digital. A quarentena fez com que líderes e pastores tivessem que mergulhar no mundo das tecnologias da comunicação. As empresas e desenvolvedores dessas tecnologias também se mexeram. Nunca se viu tantos recursos disponíveis e acessíveis a baixo custo. Aquilo que até poucos meses estava disponível apenas para grandes e ricas organizações, hoje está ao alcance de todos. 

A exposição aberta na internet implica riscos e oportunidades. Assim como milhões de pessoas em potencial poderão conhecer o pastor, a igreja, a teologia de determinada comunidade cristã e sentir-se atraída, também existe a possibilidade da exposição negativa. Muita coisa vem sendo feita às pressas, de forma improvisada, sem planejamento. Aqueles que já estavam nesse meio antes da Pandemia estão à frente, com um nível de profissionalização que lhes garante uma vitrine mais atraente. 

Fato é que há muita coisa acontecendo. Muitas perguntas vem surgindo. Milhões de pessoas estão consumindo os produtos digitais que as igrejas estão produzindo. Das dúvidas que surgem, alguém poderia legitimamente perguntar: seria essa participação virtual das pessoas nas programações da igreja a mesma coisa que uma presença e participação física? 

A realidade da igreja antes da Pandemia já revelava um público rotativo. Aquelas pessoas que circulam, sem se vincularem a nenhuma igreja local específica. Agora, com tantas ofertas na internet, esse público não tende a aumentar e se solidificar? São tantas opções! Afinal, qual seria a razão para me vincular se posso buscar o melhor de cada oferta conforme o meu agrado? Quando a quarentena terminar, teremos aumento ou declínio no comparecimento dos programas presenciais? 

Outro ponto que levanta dúvidas diz respeito às ofertas e contribuições. Sabemos que as igrejas são sustentadas por ofertas voluntárias. Como ficará essa realidade após a Pandemia? As pessoas continuarão contribuindo para uma igreja local ou direcionarão suas doações para os líderes mais carismáticos e sedutores do mundo digital? As facilidades das doações via cartão de crédito, transferências com débito em conta e outros deixarão espaço para velhas práticas que pedem dinheiro vivo em cestas, envelopes e carnês? 

Ainda uma última questão muito séria diz respeito ao desafio geracional. Talvez você já tenha ouvido referências que falam do 'virtual' como oposição ao 'real'. É um engano que as novas gerações não cometem. Pois para estes o mundo digital é real. Uma comunidade virtual é real. Eles se sentem plenamente envolvidos e atuantes nas redes sociais e no universo da internet. Eles simplesmente não entendem a razão de uma igreja local precisar se resumir apenas em eventos presenciais. Esta geração não procura por uma igreja em placas, listas telefônicas, programas de rádio, murais ou coisas assim! Logo, reproduzir pura e simplesmente na internet aquilo que já acontece num evento presencial não será suficiente para alcançar esta geração.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Pastorear é Mais do Que Pregar

Você é um pastor?

Como tem pastoreado a fração da Igreja de Jesus que está sob a tua responsabilidade? 

Você sabe a diferença entre 
pregar e pastorear? 

Embora possa parecer óbvio, muitos pastores parecem não ter a devida clareza quanto a diferença entre pastorear e pregar. A pregação da Palavra recebe maior atenção nos seminários e nas atividades pastorais. Talvez por causa da projeção que isso parece proporcionar. 

Não nos enganemos: por melhor pregador que você seja, os membros da tua comunidade ainda precisarão ser pastoreados. Uma igreja local, portanto, precisa encontrar um bom pregador da Palavra de Deus. Um expositor bíblico fiel e que faça seu trabalho bem feito, com clareza e comunicação eficaz. No entanto, precisará ainda mais de um pastor fiel, atento, sensível às dores e necessidades de seus membros. 


Qual é a estratégia de pastoreio de tua igreja local? 

Enquanto um só pastor pode expor a Palavra em pregações semanais para milhares de expectadores, dificilmente um único líder conseguirá acompanhar pastoralmente um número expressivo de pessoas. Se a tarefa de pregar e pastorear couber ao mesmo indivíduo, então, estaremos diante de um desafio frustrante! 
Um responsável expositor da Palavra sabe o trabalho que dá preparar uma boa pregação. Quanto tempo ainda restará para acompanhar de perto os membros num trabalho pastoral? 

Igrejas que contam com uma equipe pastoral são raras. É mais comum termos pastores sobrecarregados com múltiplas tarefas no ministério. As cobranças são muitas. Se você é um destes pastores sobrecarregados e se pergunta como tirar tempo para, ainda, pastorear, talvez tenha que rever o planejamento e a agenda. 

Mas, e quando sequer existe um planejamento? 

Sim. Muitos pastores correm de um lado para o outro tentando 'apagar os incêndios' que vão surgindo entre os líderes e membros da igreja. A solução permanece sendo a mesma: PLANEJAMENTO. 

Planejar consiste em eleger prioridades. Não é possível dar conta de tudo. As demandas nunca têm fim. 

Para um pastor que não está, atualmente, pastoreando ninguém, começar com um pequeno número de membros já será alguma coisa. Pergunte-se quem são os membros mais estratégicos na missão da igreja? Quem os está pastoreando? Como você poderia acompanhá-los mais de perto? 

Não se engane! Os líderes mais engajados não estão garantidos na igreja. Geralmente são os mais críticos e, também, os mais sobrecarregados. Ele precisam ser pastoreados. 

O quanto você, pastor, é acessível aos membros da tua igreja? 

Sugerimos duas estratégias que você pode colocar em prática agora mesmo: 

1. Faça uma lista com pessoas da comunidade que você irá se aproximar e pastorear de verdade. Não, não será possível colocar todos os membros da igreja na lista. Jesus chamou doze para passar três anos com eles. 
Importante: Jesus fez deste seu grupo, colaboradores no pastoreio. Pense em quem você poderia acompanhar mais de perto. Depois estabeleça uma estratégia de acompanhamento. 
Exemplo: uma ligação telefônica semanal. Um encontro (visita, café) quinzenal ou mensal.
Coloque isso na agenda. Precisa haver intencionalidade e ações concretas. Relacione-se. Acompanhe. Importe-se. 
Não fique preso aos programas já instituídos pela igreja. Amplie os horizontes. Proponha atividades conjuntas: caminhadas, refeições, esporte, supermercado. É incrível o quanto os relacionamentos acontecem de maneira informal, nas atividades ordinárias do dia a dia.

2. Libere tempo para pastorear. A desculpa da falta de tempo é corriqueira. No entanto, o tempo é o mesmo para todos. Ninguém tem mais do que as mesmas 24 horas no dia. 
Mais uma vez, trata-se de uma questão de prioridade. 
O que você faz e que poderia ser deixado de lado? 
Muitos pastores repetem mecanicamente atividades e programações sem qualquer questionamento. Pergunte-se: se eu parasse com isso hoje, alguém sentiria falta? 
Ainda: se eu pudesse realizar apenas uma ou duas de minhas atividades diárias no ministério, quais seriam? 
Invista em pessoas e multiplique a equipe, capacite outros para pastorear. O conselho do sogro Jetro para Moisés continua bastante útil (Êxodo 18.13ss.). 

A pregação é importante. 
Pastorear é essencial. 
Pregar é solitário. 
Pastorear é relacional. 
Busque equilíbrio nessas tarefas diárias e, até mesmo a maneira de pregar sairá ganhando!

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Sete Lições Para a Igreja

A Igreja Deve Responder Como Jesus Respondeu a João Batista

Falar de missão é falar de testemunho.

Testemunho consiste em viver e falar diante de outros a respeito de algo que você viu e viveu.

A Igreja é o povo de Deus chamado para cumprir a missão de Deus. Ela realizará a missão de Deus a medida que participa, no poder do Espírito Santo, da missão de Jesus.

Temos algum consenso de que Deus deseja restaurar o mundo inteiro. Portanto, a missão dirige-se ao mundo inteiro. A pergunta que pode suscitar alguma dúvida aqui é a respeito de como realizar essa missão?

Como Jesus espera que a igreja 
cumpra a missão de Deus? 

Jesus, além de ser o resgatador, o salvador, o redentor da criação de Deus, foi também uma espécie de modelo da missão de Deus. Suas palavras em João 20.21 não deixam qualquer dúvida a este respeito: "Assim como o Pai me enviou, eu os envio".

Nas palavras do missiólogo Michael Goheen, "a missão de Jesus é um padrão e um modelo para nós".

Existe uma passagem das Escrituras que é bastante intrigante e pouco explorada quando se trata de missão.

É certo que Jesus tinha consciência de que seu primeiro objetivo consistia em dirigir-se e reunir as ovelhas perdidas de Israel (Mateus 10.6; 15.24), embora isso não signifique que Ele não tivesse consciência do escopo universal de sua missão (Mateus 8.11).

Esse chamado para juntar Israel a partir de um messias, era parte da teologia de Israel e estava bem presente na cultura religiosa judaica da época. Todos esperavam que Jesus inaugurasse imediatamente o reino de Deus. E, quando Ele tarda em fazê-lo, muitos começam a ficar impacientes e a duvidar.

O próprio João Batista era um destes que pregava a iminência do reino de Deus. A colheita já estava para começar, dizia ele. Com a demora, no entanto, João envia alguns amigos para tirarem definitivamente a dúvida com Jesus: 'Afinal de contas, você é o messias ou não? É você que restaurará Israel, conforme anunciaram as profecias, ou devemos esperar alguém outro?' (Lucas 7.19).

Este é o texto a que nos referimos acima. O que ele nos ensina sobre a missão da igreja?

Se Jesus é também um padrão, um modelo de como a igreja deve cumprir a sua missão, então, a resposta que Cristo dá aos mensageiros de João Batista deveria servir para nossa reflexão.

Qual é a resposta que Jesus dá aos amigos de João? "...ele respondeu aos mensageiros: 'Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos vêem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa'" (Lucas 7.22,23).

Então, vamos lá! Se Jesus é o modelo de missão para a Igreja. Se Ele disse que a igreja é enviada assim como Ele mesmo foi enviado, então, façamos um exercício de reflexão.

Imagine que alguém tenha enviado mensageiros para a tua igreja. Chegaram alguns 'espias' que desejam sondar 'as terras'. Semanalmente nossas comunidades e igrejas locais recebem visitantes em seus cultos e demais programações. Não precisamos, porém, nos restringir aos programas da igreja. Afinal de contas, a igreja, como o povo de Deus no mundo, está o tempo todo falando, vivendo, trabalhando, se relacionando dentro deste mundo. O fato é que o povo de Deus está no mundo e está visível para todos.

A questão é que o mundo está perguntando: 'São vocês o povo de Jesus? Você é um seguidor de Jesus ou devo buscar em outro lugar?'

Com base em Jesus, - de quem você confessa ser um discípulo - qual resposta daria?

Lembre-se, Jesus não deu nenhuma resposta semelhante a isso: "Vão e digam a João: eu dou o dízimo, frequento regularmente a sinagoga, faço minhas orações diárias, compartilho bonitas mensagens de fé, até já fui batizado!"

Baseados na resposta de Jesus e, no fato, de que somos enviados como Jesus foi, qual a resposta deveríamos estar preparados - se somos a Igreja de Jesus -, a dar ao mundo?

"nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir"
Marcos 10.45


IGREJA: lugar e canal da missão


sexta-feira, 8 de maio de 2020

Se Arrependimento Matasse!!!

De que você se arrepende? 

Talvez você também já tenha escutado frases do tipo "melhor arrepender-se do que fez do que daquilo que não fez". Há quem assuma tal postura como verdadeira filosofia de vida. É como se disséssemos que deveríamos nos conceder a liberdade de fazermos tudo que nos vem à cabeça, depois a gente vê o que acontece!

A concepção de 'arrependimento' por trás desse tipo de filosofia costuma ser restrita às atitudes cotidianas da vida. 'Não me arrependo de ter comprado!'; 'Me arrependo de um dia ter aceitado esse emprego!'; 'Me arrependi de ter casado com ele!'; 'Estou arrependida de não ter começado a academia antes!'

Assim, arrependimento relaciona-se às decisões que alguém toma ou deixa de tomar na vida. Se cada um de nós fizer um exame sincero da própria vida, considerando pensamentos, palavras e ações, não poderá deixar de concluir uma coisa: somos maus e isso é visível.

Eu não preciso olhar para fora ou para a vida dos outros para constatar a maldade da natureza humana. Basta que eu seja sincero em meu autoexame.

Diante das escolhas que fazemos na vida, nem sempre usamos bem a liberdade que temos. Os caminhos que tomamos sempre geram uma consequência ou outra. E, essas consequências, raramente, envolvem apenas a nós mesmos. Dentre as lições que se pode tirar de nossos erros, uma é não querer repeti-los. A maior dificuldade porém, não está em nossa capacidade de aprender com os erros, mas, em admiti-los.

Deus conhece o ser humano mais do que ninguém. Em Jesus de Nazaré, Deus encarnou a humanidade. Além de nos criar, Deus experimentou o que é ser humano. E, Ele não fez isso como mera experiência ou curiosidade individual. Em Jesus, Deus está deixando claro que outro caminho é possível. Por isso a sua mensagem inclui o chamado ao arrependimento.

Dentre as sete igrejas que recebem uma mensagem específica em Apocalipse, cinco delas são criticadas em seu comportamento e atitudes: Éfeso, Pérgamo, Tiatira, Sardes e Laodicéia. A elas é dirigido a palavra: "Arrependa-se..." Esmirna e Filadélfia, que ouvem somente elogios, recebem uma palavra de exortação (Apocalipse 2.10 e 3.11). Somente quem conhece tão intimamente a alma humana pode desnudá-la desta maneira.

Afinal, o que é arrependimento?

O que significa arrepender-se?
No contexto do próprio livro de Apocalipse, olhando especificamente os capítulos 9 e 16, encontraremos palavras sobre aqueles que se recusam a arrepender-se. A partir da mensagem que lemos ali, concluímos que arrepender-se significa dar honras somente a Deus, afastando-se de outros senhores diante dos quais se estava ajoelhado.

Uma constatação teológica possível é que a nossa vida, em nossas decisões e atitudes, é pautada pelo objeto de nossa adoração.

Conforme Apocalipse 9.20, aqueles que se recusaram "não pararam de adorar os demônios e os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira, ídolos que não podem ver nem ouvir nem andar".

Arrepender-se é, portanto, fazer como aqueles mencionados na primeira carta aos Tessalonicenses 1.9: "deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro". A referência ao Mandamento é inevitável: "Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto" (Êxodo 20.3-5).

Arrependimento consiste em mudar o foco da nossa adoração. Aquele (ou aquilo) a quem adoramos é que define aquilo que nos tornamos (Salmo 115.8 e 135. 15-18). Adorar não é cantar de olhos fechados e mãos erguidas. O 'objeto' da tua adoração não é tão facilmente identificado quando você está num culto ou templo religioso como quando você está na privacidade do seu lar, ou, dirigindo pelas ruas, na rotina do seu trabalho e negócios, nos estudos, nos seus relacionamentos... (Confira Mateus 3.8 e 7.20).

Arrependimento, portanto, consiste em identificarmos o verdadeiro objeto de nossa adoração, em torno do qual estamos edificando as nossas vidas e, voltarmo-nos ao único que é digno de toda adoração. 

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Amor Que Ousa Ser Verdadeiro

Você ainda se lembra do tempo em que as pessoas escreviam cartas?
Pois é, algo ainda tão próximo de todos nós e, ao mesmo tempo, já parece tão distante!

Em tempos de mensagens curtas, instantâneas e imediatas é difícil imaginar um e-mail com páginas e mais páginas, uma mensagem que demoraria dias para chegar ao destinatário.

O Novo Testamento bíblico foi escrito, boa parte dele, como cartas para igrejas que estavam se estabelecendo em diferentes lugares da época. O chamado livro de Apocalipse é uma dessas cartas.

Antigamente, escrever uma carta era coisa que não se fazia todos os dias. Havia também um custo considerável envolvido. Ninguém ousaria escrever por escrever. A mensagem bem como as palavras eram cuidadosamente escolhidas.  Havia realmente algo que se queria transmitir. Do contrário, ninguém se prestaria ao trabalho de tal empreendimento.

A grande carta de Apocalipse faz uma menção especial para sete igrejas estabelecidas em diferentes cidades. Sobre as mensagens às sete igrejas do Apocalipse, uma das coisas em comum a cada igreja é a identificação do remetente. Jesus se revela de um modo peculiar para cada uma delas. E, na revelação à igreja de Éfeso, uma coisa chama atenção: "Ao anjo da igreja em Éfeso escreva: Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro" (Apocalipse 2. 1).

A partir do capítulo um, sabemos que os sete candelabros representam as sete igrejas. A maneira como ele se identifica, nos leva a concluir que o remetente é Jesus. Logo, Jesus é aquele que anda entre os candelabros. Com isso, concluímos que Jesus conhece a igreja bem como as suas obras. É por isso que Ele repete às igreja "conheço as tuas obras..."

Uma das coisas que o ser humano aprende a fazer desde criança é dissimular. Nos especializamos de tal modo que logo começamos a mentir para nós mesmos. E, como precisamos nos convencer de nossas próprias mentiras, praticamos contando-as aos outros. Muitas vezes chegamos a estar sinceramente enganados a respeito de nós mesmos. Não conseguimos mais ter uma opinião ou um conceito saudável a nosso próprio respeito. Quando isso acontece, só um relacionamento com alguém que verdadeiramente nos ama e que ainda nos enxerga como de fato somos é capaz de nos salvar. Alguém que possa dizer a verdade a nosso respeito sem bajulações ou espírito de competição. Sem puxar o saco, mas também, sem querer nos desqualificar. Alguém que nos chama à realidade e nos desafia para algo novo.

Ter um conceito falso a respeito de si mesmo pode acontecer com pessoas, grupos, empresas, países e até igrejas. Acontecia com a igreja de Laodicéia: "Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu" (Apocalipse 3.17). Somente alguém que conhece esta comunidade, que anda entre as igrejas pode conhecê-la tão bem. E, o Cristo, o cabeça da igreja, aquele que deu a sua vida por amor, possui a autoridade e o conhecimento para uma afirmação tão corajosa.

Quantas vezes deixamos de dizer aos nossos amigos a verdade sobre eles por medo de perder a amizade? No entanto, quem ama de fato, corre o risco. Pois o verdadeiro amor não tolera a mentira. É por isso que as mensagens às igrejas trazem também o convite "arrependa-se..."

Arrependimento implica cair em si, dar-se conta do erro, do engano, do equívoco. E, dispor-se a dar meia volta, mudar o rumo, ajeitar-se, começar de novo. Eis a oportunidade que Deus nos concede todos os dias.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Introdução à Escatologia Cristã

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Apocalipse: uma mensagem para a Igreja

O conteúdo de qualquer correspondência revela algo de seu remetente.

Muitas vezes, a maneira como vemos o livro de Apocalipse, no final da Bíblia, parece revelar que estamos com um Deus diferente em mente do que aquele que enviou Jesus Cristo ao mundo.

Quem é o verdadeiro remetente da carta de Apocalipse!?

Um dos trechos mais conhecidos do livro de Apocalipse é conhecido como carta às sete igrejas. O número sete ocorre com frequência no livro de Apocalipse. Representa inteireza, plenitude, perfeição espiritual. A palavra hebraica para sete significa 'ser cheio', 'estar satisfeito', 'ter o suficiente'.

Os capítulos 2 e 3 do livro trazem uma mensagem específica para sete diferentes comunidades: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. Cada comunidade é identificada pelo nome da cidade onde se encontra.

Com isso, o próprio Apocalipse revela o significado dos sete candelabros ou candeeiros mencionados no primeiro capítulo "Este é o mistério das sete estrelas que você viu em minha mão direita e dos sete candelabros: as sete estrelas são os anjos das sete igrejas, e os sete candelabros são as sete igrejas"(Apocalipse 1. 20).

Ao lermos os capítulos 2 e 3 do livro de Apocalipse, costumamos dizer que são as cartas às sete igrejas. No entanto, todo o livro de Apocalipse é uma carta às igrejas da Ásia Menor onde se encontram as sete igrejas. O que acontece nos capítulos 2 e 3 é uma menção específica para cada uma daquelas comunidades. Trata-se de uma demonstração de como Deus conhece cada comunidade e como Ele se dirige especificamente a cada uma delas. No entanto, os princípios ali encontrados servem para toda e qualquer comunidade cristã, seja daquele tempo ou dos dias atuais. Afinal, de acordo com o significado do número sete na Bíblia, uma mensagem enviada às sete igrejas pode ser interpretado como sendo uma mensagem à igreja, simplesmente. Ou seja, à igreja toda, na sua plenitude.

Assim, os primeiros capítulos do Apocalipse merecem a nossa atenção. Não há nada de importante nos capítulos seguintes que já não tenha sido indicado nos três primeiros capítulos. Dentre as questões que as sete mensagens tem em comum, uma delas é a revelação do remetente. O modo de se revelar é diferente para cada igreja. Porém, fica claro que se trata do mesmo remetente. Cada auto-apresentação revela uma peculiaridade associada ao primeiro capítulo de Apocalipse.

Vejamos a apresentação à igreja em Éfeso: "Ao anjo da igreja em Éfeso escreva: Estas são as
palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro" (Apocalipse 2. 1. Existe uma referência ao capítulo 1, versos 12 e 16). Este padrão segue em todas as sete mensagens.

Quem é, portanto, 'aquele' a quem pertencem as palavras a serem escritas e enviadas às igrejas? Quem tem toda as coisas em suas mãos?
Quem é o princípio e o fim?
Quem morreu e tornou a viver?
Quem é o Filho de Deus?
Quem é santo e verdadeiro?
Quem é a testemunha fiel e verdadeira, o soberano da Criação?
Quem é, portanto, o remetente da mensagem?

O Apocalipse é uma mensagem de Deus para a Igreja!

Entre o Medo e a Esperança

Quantos deuses a bíblia retrata?

Será que o Deus do Antigo testamento, dos Evangelhos e do Apocalipse é o mesmo?

Enquanto João escreve as palavras do livro de Apocalipse, ele está preso numa ilha conhecida como Patmos. Roma, a cidade das sete colinas, fica a oeste. As comunidades cristãs para quem João destina os seus escritos ficam na região da Ásia Menor, atual Turquia. Era uma região próspera, com grandes portos e comércio forte. Um grande centro cultural da época.

O império Romano já dava sinais da sua decadência. Na época da composição do Apocalipse o imperador era Nero ou Domiciano. É mais provável que João tenha escrito o Apocalipse durante o reinado de Domiciano (entre os anos 81 ao 96). Domiciano havia instituído o culto ao imperador. Apesar de isso não ser em si uma novidade, com Domiciano o culto ao imperador foi considerado uma lealdade ao império. Assim, procurava-se implantar um governo absoluto sobre os corpos e as almas das pessoas. Todos deveriam chamar Domiciano de 'Senhor e Deus'. Ele mesmo chamava a sua cama de o 'leito de um deus'. O palácio era o seu santuário.

Foi um período de extrema violência e perseguição a todos que se negavam a adorar o imperador como Deus. Todos, além dos cristãos, filósofos, políticos e até membros da própria família que oferecessem resistência eram banidos ou mortos. Nesse caso, o que estava em jogo era a adoração. Domiciano foi o imperador que reivindicou de todas as formas aquilo que pertence somente a Deus.

O cristianismo já havia se espalhado bastante, alcançando, inclusive o círculo dos governantes. Já havia, também, se separado claramente do judaísmo. Domiciano via o cristianismo como grande ameaça contra o culto ao imperador. Os cristão se negavam a prestar culto a qualquer outra divindade.

Com a perseguição, também João acabou preso na ilha de Patmos, um local para onde os prisioneiros do império eram levados. Assim, João escreve com a intenção de levar esperança e orientação a respeito do único Deus que é digno de adoração. Seus irmãos na fé, que continuam sendo mortos e torturados, recebiam a mensagem de Apocalipse com grande alegria e se fortaleciam para continuar fiéis apesar de todas as dificuldades.

O Apocalipse, portanto, não é uma mensagem de terror, medo e perplexidade. Mas, uma mensagem de esperança que visa exortar à coragem, à fé e perseverança em meio às tribulações e dificuldades que possam se abater (confira o Salmo 23). O Deus que se revela no Apocalipse não é outro que aquele revelado em Jesus Cristo nos Evangelhos. É desse Deus que João está falando.

Quem confia não tem motivos para temer!