terça-feira, 18 de agosto de 2020

Da Caixinha de Promessas aos Memes da Internet

Você sabe o que é uma Caixinha de Promessas?

A grande maioria de nós, que estamos neste mundo e acessa, vez e outra, as redes sociais, não somos teólogos que tiveram o privilégio de fazer uma faculdade de teologia. 

Uma das lições básicas do teólogo cristão e que ele aprende em disciplinas específicas é sobre a interpretação bíblica. Estou falando da EXEGESE

Muito mais comum para tantos de nós, talvez seja, a Caixinha de Promessas. Aquelas caixinhas com cartões coloridos contendo, cada cartão, um versículo da Bíblia. A maneira que alguém utiliza pode variar. Grosso modo, a pessoa pode, a cada dia, tirar um cartão e tomar aquele versículo como uma palavra de Deus para ela naquele dia. 


Eu não duvido de algum bem eventual que essa prática possa trazer na vida daquela pessoa. Deus não está limitado aos nossos meios para trabalhar conosco. No entanto, seria muito estranho se um teólogo, depois de passar pelas disciplinas de exegese bíblica, ainda mantivesse sua relação e seu exercício de interpretação bíblica à base da Caixinha de Promessas. 

Depois de aprender, por exemplo, que 

“a exegese é o estudo cuidadoso e sistemático da Escritura para descobrir o significado original que foi pretendido. A exegese é basicamente uma tarefa histórica. É a tentativa de escutar a Palavra conforme os destinatários originais devem tê-la ouvido; descobrir qual era a intenção original das palavras da Bíblia” (Gordon Fee & Douglas Stuart), 

e, praticar isso, a pergunta pelo contexto é sempre um princípio fundamental. 

A boa notícia é que isso pode ser ensinado também às pessoas em geral, não sendo conhecimento exclusivo aos seminários e faculdades de teologia. 

Infelizmente a prática de ler as Escrituras via Caixinha de Promessas parece ter se ampliado e adaptado para a maneira como as pessoas agora leem a realidade em geral. As redes sociais deram contribuição fundamental para isso. O twitter, por exemplo, surgiu como rede social que limitava as postagens aos 140 caracteres. Mesmo com apenas 9% dos tweets chegando a utilizar todos os 140 caracteres disponíveis, a rede social decidiu, em 2017, dobrar a capacidade limite. Agora, ao que parece, em torno de 1% dos usuários chegam a utilizar os 280 caracteres possíveis. 

A "caixinha de promessas' da era das redes sociais, no entanto, chama-se 'meme'. 

O que é um meme? 

Ao que parece, o termo teria se originado com o biólogo evolucionista Richard Dawkins (O gene egoísta, de 1976) que não estava interessado na cultura digital. A ideia, ali, consiste em falar a respeito de algo que se propaga. Faço este resumo para ficarmos no ponto que interessa à nossa abordagem aqui e poder seguir em frente. 

Na internet um meme é um recurso capaz de proliferar uma informação rapidamente. O termo utilizado para isso é 'viralizar'. Se algo viralizou na internet isso quer dizer que fez sucesso, se espalhou, milhares de pessoas estão acessando e compartilhando. Com isso os memes, que podem ser vídeos, gifs, imagens e montagens combinando frases e imagens, são os 'cartões coloridos' da caixinha de pandora... digo, da caixinha de promessas da internet! 

Não importa o contexto. Não importa a notícia. Não importam os fatos. O meme já me instruiu. Não há tempo para ler uma notícia inteira. A 'chamada' postada como 'meme' já é suficiente. Já posso construir meu juízo! Já sei a realidade e como me portar diante dela! 

Desde marqueteiros à serviço dos políticos até aos que estão à serviço das redes de informação e vendas diversos, todos já descobriram o poder dos memes. Se a Caixinha de Promessas não vende mais que a Bíblia, fato é que dá pra ter e ler a Bíblia como se ela mesmo não fosse mais do que isso, uma caixa de promessas.

Como as disciplinas acadêmicas em geral, a teologia também tem os seus memes, ou, se preferirem, frases de fixação, como "texto fora de contexto é pretexto". Os memes da era digital, ao que parece, chegaram para legitimar o pretexto!

quinta-feira, 30 de julho de 2020

15 Perguntas que Todo Pastor Deve Ser Capaz de Responder Sobre a Sua Igreja Local


Você tem consciência da igreja local onde congrega? 

Esta é uma pergunta que torna-se ainda mais fundamental se você é um líder ou um pastor na igreja.

Impressiona como muitos pastores e líderes não são capazes de responder questões básicas sobre a realidade envolvendo a sua igreja local. Isso, certamente, causa impactos enormes sobre estilo de liderança, autoridade e estratégias de ação. 

O consultor de igrejas Chuck Lawless lista 15 perguntas que um líder e pastor deveria ser capaz de responder a respeito da igreja. Como você responderia a este questionário? 

1. Quais é a declaração de visão e de missão de sua igreja local? 
2. Quantas pessoas vivem num raio de 7 a 10 quilômetros em torno da sede da sua igreja local? 
3. Quais são os nomes das autoridades governamentais em sua cidade (Prefeito, vereadores, juízes, etc.)? 
4. Sua igreja local está crescendo? Em que taxa? 
5. Qual é a proporção entre novos membros que chegam por batismo e os que chegam por conversão em sua igreja? 
6. Qual é a capacidade física, de infraestrutura, de sua igreja local (vagas de estacionamento, classe para crianças, banheiros, etc.)? 
7. Em sua equipe de líderes e funcionários, quais são os nomes de seus filhos e cônjuges? 
8. Você sabe qual é o testemunho que a sua equipe de líderes tem dado em sua família, trabalho e na cidade? 
9. Você está por dentro do orçamento da sua igreja? 
10. Dos participantes das programações em sua igreja local, quais são as estatísticas quanto à faixa etária (por idade, crianças, adolescentes, jovens, idosos, etc)? 
11. Quantos plantadores de igrejas, missionários e pastores sua igreja enviou durante seu ministério/liderança/pastorado? 
12. Qual porcentagem dos membros ativos em sua igreja estão participando de um pequeno grupo? 
13. Os líderes da igreja estão cientes e comprometidos com a base doutrinária e confessional dessa igreja? 
14. Quantas viagens missionárias a sua igreja patrocinou no último ano e a quais lugares estão indo? 
15. Qual é a sua visão para a igreja daqui a cinco anos? 

Agora, imagine que cada questão vale 6,5 pontos. Como foi a sua pontuação considerando aquelas perguntas que você conseguiu responder claramente? 

O trabalho de um líder, um pastor, passa por conhecer bem a realidade onde está atuando. Se você acha que não se saiu muito bem ao responder esse questionário, o tempo para se dedicar nessas questões é agora.

domingo, 12 de julho de 2020

Os Cristãos Discordam Sobre Quando Retomar as Atividades Presenciais da Igreja


Em conversas e manifestações nas redes sociais é fácil notar que, entre os cristãos, não existe unanimidade a respeito de quando as igrejas locais deveriam retomar as atividades presenciais. As razões para esta discordância podem ser as mais diversas. Abaixo listamos algumas delas. 

1. Existem pessoas mais introvertidas e outras mais extrovertidas. Aquelas pessoas mais introvertidas, que gostam de ficar sozinhas e não se importam de passar dias em casa, provavelmente não terão nenhuma pressa para que as atividades sociais retornem. Já os extrovertidos, aqueles que se alimentam dos relacionamentos, que gostam de estar entre pessoas, já não aguentam mais o isolamento. A discussão, portanto, pode estar fundamentada nessa diferença de temperamento e de personalidade dos cristãos. 

2. Entre os membros da igreja existem diferentes opiniões a respeito do coronavírus. As informações são as mais diversas. Alguns ouvem mais a família. Outros não desligam dos noticiários. Há quem prefira as informações mais cientificamente embasadas. Tudo isso faz com que as pessoas formulem diferentes opiniões e visões até mesmo a respeito da gravidade da doença causada pelo vírus. 

3. Idade e situação familiar. O novo coronavírus representa maior risco para grupos específicos da sociedade. Logo, as opiniões vão divergir dependendo da idade e da situação familiar. Jovens podem ser mais propensos ao retorno das atividades. Pessoas idosas talvez prefiram aguardar um pouco mais. A avaliação tende a partir de uma situação pessoal e familiar específica. 

4. Posturas com relação às mudanças. Na sociedade existem pessoas mais e menos propensas às mudanças. No caso da igreja, aquelas pessoas mais resistentes às mudanças tendem a querer esperar, pois imaginam que para um retorno das atividades enquanto ainda existe o risco da pandemia a igreja terá que fazer adaptações. Logo, preferem aguardar até que as coisas realmente possam voltar ao "normal". Por outro lado, as pessoas receptivas às mudanças podem estar ansiosas por experimentar a nova realidade da igreja. Estão ansiosas por novas abordagens, novas idéias e perspectivas suscitadas pela crise. 

Ninguém melhor que um pastor para saber que é impossível agradar a todos. Importante, então, perceber as diferentes motivações que impulsiona as pessoas. Escute os conselheiros e ore por sabedoria e discernimento. Há uma responsabilidade com a saúde pública a ser levada em consideração. 

Que o bom Deus oriente a todos para as melhores decisões!

terça-feira, 30 de junho de 2020

Igreja Digital


Qual igreja surgirá após a quarentena? 

Das lives e dos textos disponíveis muitos se fazem esta pergunta. O que podemos dizer mesmo é que ninguém tem essa resposta. Podemos, no máximo, arriscar algumas tendências. Ainda assim, a igreja de Jesus possui características que nenhuma pandemia seria capaz de alterar. 

Um assunto sobre o qual muito se fala é da igreja digital. A quarentena fez com que líderes e pastores tivessem que mergulhar no mundo das tecnologias da comunicação. As empresas e desenvolvedores dessas tecnologias também se mexeram. Nunca se viu tantos recursos disponíveis e acessíveis a baixo custo. Aquilo que até poucos meses estava disponível apenas para grandes e ricas organizações, hoje está ao alcance de todos. 

A exposição aberta na internet implica riscos e oportunidades. Assim como milhões de pessoas em potencial poderão conhecer o pastor, a igreja, a teologia de determinada comunidade cristã e sentir-se atraída, também existe a possibilidade da exposição negativa. Muita coisa vem sendo feita às pressas, de forma improvisada, sem planejamento. Aqueles que já estavam nesse meio antes da Pandemia estão à frente, com um nível de profissionalização que lhes garante uma vitrine mais atraente. 

Fato é que há muita coisa acontecendo. Muitas perguntas vem surgindo. Milhões de pessoas estão consumindo os produtos digitais que as igrejas estão produzindo. Das dúvidas que surgem, alguém poderia legitimamente perguntar: seria essa participação virtual das pessoas nas programações da igreja a mesma coisa que uma presença e participação física? 

A realidade da igreja antes da Pandemia já revelava um público rotativo. Aquelas pessoas que circulam, sem se vincularem a nenhuma igreja local específica. Agora, com tantas ofertas na internet, esse público não tende a aumentar e se solidificar? São tantas opções! Afinal, qual seria a razão para me vincular se posso buscar o melhor de cada oferta conforme o meu agrado? Quando a quarentena terminar, teremos aumento ou declínio no comparecimento dos programas presenciais? 

Outro ponto que levanta dúvidas diz respeito às ofertas e contribuições. Sabemos que as igrejas são sustentadas por ofertas voluntárias. Como ficará essa realidade após a Pandemia? As pessoas continuarão contribuindo para uma igreja local ou direcionarão suas doações para os líderes mais carismáticos e sedutores do mundo digital? As facilidades das doações via cartão de crédito, transferências com débito em conta e outros deixarão espaço para velhas práticas que pedem dinheiro vivo em cestas, envelopes e carnês? 

Ainda uma última questão muito séria diz respeito ao desafio geracional. Talvez você já tenha ouvido referências que falam do 'virtual' como oposição ao 'real'. É um engano que as novas gerações não cometem. Pois para estes o mundo digital é real. Uma comunidade virtual é real. Eles se sentem plenamente envolvidos e atuantes nas redes sociais e no universo da internet. Eles simplesmente não entendem a razão de uma igreja local precisar se resumir apenas em eventos presenciais. Esta geração não procura por uma igreja em placas, listas telefônicas, programas de rádio, murais ou coisas assim! Logo, reproduzir pura e simplesmente na internet aquilo que já acontece num evento presencial não será suficiente para alcançar esta geração.

terça-feira, 16 de junho de 2020

Pastorear é Mais do Que Pregar

Você é um pastor?

Como tem pastoreado a fração da Igreja de Jesus que está sob a tua responsabilidade? 

Você sabe a diferença entre 
pregar e pastorear? 

Embora possa parecer óbvio, muitos pastores parecem não ter a devida clareza quanto a diferença entre pastorear e pregar. A pregação da Palavra recebe maior atenção nos seminários e nas atividades pastorais. Talvez por causa da projeção que isso parece proporcionar. 

Não nos enganemos: por melhor pregador que você seja, os membros da tua comunidade ainda precisarão ser pastoreados. Uma igreja local, portanto, precisa encontrar um bom pregador da Palavra de Deus. Um expositor bíblico fiel e que faça seu trabalho bem feito, com clareza e comunicação eficaz. No entanto, precisará ainda mais de um pastor fiel, atento, sensível às dores e necessidades de seus membros. 


Qual é a estratégia de pastoreio de tua igreja local? 

Enquanto um só pastor pode expor a Palavra em pregações semanais para milhares de expectadores, dificilmente um único líder conseguirá acompanhar pastoralmente um número expressivo de pessoas. Se a tarefa de pregar e pastorear couber ao mesmo indivíduo, então, estaremos diante de um desafio frustrante! 
Um responsável expositor da Palavra sabe o trabalho que dá preparar uma boa pregação. Quanto tempo ainda restará para acompanhar de perto os membros num trabalho pastoral? 

Igrejas que contam com uma equipe pastoral são raras. É mais comum termos pastores sobrecarregados com múltiplas tarefas no ministério. As cobranças são muitas. Se você é um destes pastores sobrecarregados e se pergunta como tirar tempo para, ainda, pastorear, talvez tenha que rever o planejamento e a agenda. 

Mas, e quando sequer existe um planejamento? 

Sim. Muitos pastores correm de um lado para o outro tentando 'apagar os incêndios' que vão surgindo entre os líderes e membros da igreja. A solução permanece sendo a mesma: PLANEJAMENTO. 

Planejar consiste em eleger prioridades. Não é possível dar conta de tudo. As demandas nunca têm fim. 

Para um pastor que não está, atualmente, pastoreando ninguém, começar com um pequeno número de membros já será alguma coisa. Pergunte-se quem são os membros mais estratégicos na missão da igreja? Quem os está pastoreando? Como você poderia acompanhá-los mais de perto? 

Não se engane! Os líderes mais engajados não estão garantidos na igreja. Geralmente são os mais críticos e, também, os mais sobrecarregados. Ele precisam ser pastoreados. 

O quanto você, pastor, é acessível aos membros da tua igreja? 

Sugerimos duas estratégias que você pode colocar em prática agora mesmo: 

1. Faça uma lista com pessoas da comunidade que você irá se aproximar e pastorear de verdade. Não, não será possível colocar todos os membros da igreja na lista. Jesus chamou doze para passar três anos com eles. 
Importante: Jesus fez deste seu grupo, colaboradores no pastoreio. Pense em quem você poderia acompanhar mais de perto. Depois estabeleça uma estratégia de acompanhamento. 
Exemplo: uma ligação telefônica semanal. Um encontro (visita, café) quinzenal ou mensal.
Coloque isso na agenda. Precisa haver intencionalidade e ações concretas. Relacione-se. Acompanhe. Importe-se. 
Não fique preso aos programas já instituídos pela igreja. Amplie os horizontes. Proponha atividades conjuntas: caminhadas, refeições, esporte, supermercado. É incrível o quanto os relacionamentos acontecem de maneira informal, nas atividades ordinárias do dia a dia.

2. Libere tempo para pastorear. A desculpa da falta de tempo é corriqueira. No entanto, o tempo é o mesmo para todos. Ninguém tem mais do que as mesmas 24 horas no dia. 
Mais uma vez, trata-se de uma questão de prioridade. 
O que você faz e que poderia ser deixado de lado? 
Muitos pastores repetem mecanicamente atividades e programações sem qualquer questionamento. Pergunte-se: se eu parasse com isso hoje, alguém sentiria falta? 
Ainda: se eu pudesse realizar apenas uma ou duas de minhas atividades diárias no ministério, quais seriam? 
Invista em pessoas e multiplique a equipe, capacite outros para pastorear. O conselho do sogro Jetro para Moisés continua bastante útil (Êxodo 18.13ss.). 

A pregação é importante. 
Pastorear é essencial. 
Pregar é solitário. 
Pastorear é relacional. 
Busque equilíbrio nessas tarefas diárias e, até mesmo a maneira de pregar sairá ganhando!

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Sete Lições Para a Igreja

A Igreja Deve Responder Como Jesus Respondeu a João Batista

Falar de missão é falar de testemunho.

Testemunho consiste em viver e falar diante de outros a respeito de algo que você viu e viveu.

A Igreja é o povo de Deus chamado para cumprir a missão de Deus. Ela realizará a missão de Deus a medida que participa, no poder do Espírito Santo, da missão de Jesus.

Temos algum consenso de que Deus deseja restaurar o mundo inteiro. Portanto, a missão dirige-se ao mundo inteiro. A pergunta que pode suscitar alguma dúvida aqui é a respeito de como realizar essa missão?

Como Jesus espera que a igreja 
cumpra a missão de Deus? 

Jesus, além de ser o resgatador, o salvador, o redentor da criação de Deus, foi também uma espécie de modelo da missão de Deus. Suas palavras em João 20.21 não deixam qualquer dúvida a este respeito: "Assim como o Pai me enviou, eu os envio".

Nas palavras do missiólogo Michael Goheen, "a missão de Jesus é um padrão e um modelo para nós".

Existe uma passagem das Escrituras que é bastante intrigante e pouco explorada quando se trata de missão.

É certo que Jesus tinha consciência de que seu primeiro objetivo consistia em dirigir-se e reunir as ovelhas perdidas de Israel (Mateus 10.6; 15.24), embora isso não signifique que Ele não tivesse consciência do escopo universal de sua missão (Mateus 8.11).

Esse chamado para juntar Israel a partir de um messias, era parte da teologia de Israel e estava bem presente na cultura religiosa judaica da época. Todos esperavam que Jesus inaugurasse imediatamente o reino de Deus. E, quando Ele tarda em fazê-lo, muitos começam a ficar impacientes e a duvidar.

O próprio João Batista era um destes que pregava a iminência do reino de Deus. A colheita já estava para começar, dizia ele. Com a demora, no entanto, João envia alguns amigos para tirarem definitivamente a dúvida com Jesus: 'Afinal de contas, você é o messias ou não? É você que restaurará Israel, conforme anunciaram as profecias, ou devemos esperar alguém outro?' (Lucas 7.19).

Este é o texto a que nos referimos acima. O que ele nos ensina sobre a missão da igreja?

Se Jesus é também um padrão, um modelo de como a igreja deve cumprir a sua missão, então, a resposta que Cristo dá aos mensageiros de João Batista deveria servir para nossa reflexão.

Qual é a resposta que Jesus dá aos amigos de João? "...ele respondeu aos mensageiros: 'Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos vêem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa'" (Lucas 7.22,23).

Então, vamos lá! Se Jesus é o modelo de missão para a Igreja. Se Ele disse que a igreja é enviada assim como Ele mesmo foi enviado, então, façamos um exercício de reflexão.

Imagine que alguém tenha enviado mensageiros para a tua igreja. Chegaram alguns 'espias' que desejam sondar 'as terras'. Semanalmente nossas comunidades e igrejas locais recebem visitantes em seus cultos e demais programações. Não precisamos, porém, nos restringir aos programas da igreja. Afinal de contas, a igreja, como o povo de Deus no mundo, está o tempo todo falando, vivendo, trabalhando, se relacionando dentro deste mundo. O fato é que o povo de Deus está no mundo e está visível para todos.

A questão é que o mundo está perguntando: 'São vocês o povo de Jesus? Você é um seguidor de Jesus ou devo buscar em outro lugar?'

Com base em Jesus, - de quem você confessa ser um discípulo - qual resposta daria?

Lembre-se, Jesus não deu nenhuma resposta semelhante a isso: "Vão e digam a João: eu dou o dízimo, frequento regularmente a sinagoga, faço minhas orações diárias, compartilho bonitas mensagens de fé, até já fui batizado!"

Baseados na resposta de Jesus e, no fato, de que somos enviados como Jesus foi, qual a resposta deveríamos estar preparados - se somos a Igreja de Jesus -, a dar ao mundo?

"nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir"
Marcos 10.45


IGREJA: lugar e canal da missão


sexta-feira, 8 de maio de 2020

Se Arrependimento Matasse!!!

De que você se arrepende? 

Talvez você também já tenha escutado frases do tipo "melhor arrepender-se do que fez do que daquilo que não fez". Há quem assuma tal postura como verdadeira filosofia de vida. É como se disséssemos que deveríamos nos conceder a liberdade de fazermos tudo que nos vem à cabeça, depois a gente vê o que acontece!

A concepção de 'arrependimento' por trás desse tipo de filosofia costuma ser restrita às atitudes cotidianas da vida. 'Não me arrependo de ter comprado!'; 'Me arrependo de um dia ter aceitado esse emprego!'; 'Me arrependi de ter casado com ele!'; 'Estou arrependida de não ter começado a academia antes!'

Assim, arrependimento relaciona-se às decisões que alguém toma ou deixa de tomar na vida. Se cada um de nós fizer um exame sincero da própria vida, considerando pensamentos, palavras e ações, não poderá deixar de concluir uma coisa: somos maus e isso é visível.

Eu não preciso olhar para fora ou para a vida dos outros para constatar a maldade da natureza humana. Basta que eu seja sincero em meu autoexame.

Diante das escolhas que fazemos na vida, nem sempre usamos bem a liberdade que temos. Os caminhos que tomamos sempre geram uma consequência ou outra. E, essas consequências, raramente, envolvem apenas a nós mesmos. Dentre as lições que se pode tirar de nossos erros, uma é não querer repeti-los. A maior dificuldade porém, não está em nossa capacidade de aprender com os erros, mas, em admiti-los.

Deus conhece o ser humano mais do que ninguém. Em Jesus de Nazaré, Deus encarnou a humanidade. Além de nos criar, Deus experimentou o que é ser humano. E, Ele não fez isso como mera experiência ou curiosidade individual. Em Jesus, Deus está deixando claro que outro caminho é possível. Por isso a sua mensagem inclui o chamado ao arrependimento.

Dentre as sete igrejas que recebem uma mensagem específica em Apocalipse, cinco delas são criticadas em seu comportamento e atitudes: Éfeso, Pérgamo, Tiatira, Sardes e Laodicéia. A elas é dirigido a palavra: "Arrependa-se..." Esmirna e Filadélfia, que ouvem somente elogios, recebem uma palavra de exortação (Apocalipse 2.10 e 3.11). Somente quem conhece tão intimamente a alma humana pode desnudá-la desta maneira.

Afinal, o que é arrependimento?

O que significa arrepender-se?
No contexto do próprio livro de Apocalipse, olhando especificamente os capítulos 9 e 16, encontraremos palavras sobre aqueles que se recusam a arrepender-se. A partir da mensagem que lemos ali, concluímos que arrepender-se significa dar honras somente a Deus, afastando-se de outros senhores diante dos quais se estava ajoelhado.

Uma constatação teológica possível é que a nossa vida, em nossas decisões e atitudes, é pautada pelo objeto de nossa adoração.

Conforme Apocalipse 9.20, aqueles que se recusaram "não pararam de adorar os demônios e os ídolos de ouro, prata, bronze, pedra e madeira, ídolos que não podem ver nem ouvir nem andar".

Arrepender-se é, portanto, fazer como aqueles mencionados na primeira carta aos Tessalonicenses 1.9: "deixando os ídolos, vos convertestes a Deus, para servirdes o Deus vivo e verdadeiro". A referência ao Mandamento é inevitável: "Não terás outros deuses além de mim. Não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, ou nas águas debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles nem lhes prestarás culto" (Êxodo 20.3-5).

Arrependimento consiste em mudar o foco da nossa adoração. Aquele (ou aquilo) a quem adoramos é que define aquilo que nos tornamos (Salmo 115.8 e 135. 15-18). Adorar não é cantar de olhos fechados e mãos erguidas. O 'objeto' da tua adoração não é tão facilmente identificado quando você está num culto ou templo religioso como quando você está na privacidade do seu lar, ou, dirigindo pelas ruas, na rotina do seu trabalho e negócios, nos estudos, nos seus relacionamentos... (Confira Mateus 3.8 e 7.20).

Arrependimento, portanto, consiste em identificarmos o verdadeiro objeto de nossa adoração, em torno do qual estamos edificando as nossas vidas e, voltarmo-nos ao único que é digno de toda adoração. 

quinta-feira, 7 de maio de 2020

Amor Que Ousa Ser Verdadeiro

Você ainda se lembra do tempo em que as pessoas escreviam cartas?
Pois é, algo ainda tão próximo de todos nós e, ao mesmo tempo, já parece tão distante!

Em tempos de mensagens curtas, instantâneas e imediatas é difícil imaginar um e-mail com páginas e mais páginas, uma mensagem que demoraria dias para chegar ao destinatário.

O Novo Testamento bíblico foi escrito, boa parte dele, como cartas para igrejas que estavam se estabelecendo em diferentes lugares da época. O chamado livro de Apocalipse é uma dessas cartas.

Antigamente, escrever uma carta era coisa que não se fazia todos os dias. Havia também um custo considerável envolvido. Ninguém ousaria escrever por escrever. A mensagem bem como as palavras eram cuidadosamente escolhidas.  Havia realmente algo que se queria transmitir. Do contrário, ninguém se prestaria ao trabalho de tal empreendimento.

A grande carta de Apocalipse faz uma menção especial para sete igrejas estabelecidas em diferentes cidades. Sobre as mensagens às sete igrejas do Apocalipse, uma das coisas em comum a cada igreja é a identificação do remetente. Jesus se revela de um modo peculiar para cada uma delas. E, na revelação à igreja de Éfeso, uma coisa chama atenção: "Ao anjo da igreja em Éfeso escreva: Estas são as palavras daquele que tem as sete estrelas em sua mão direita e anda entre os sete candelabros de ouro" (Apocalipse 2. 1).

A partir do capítulo um, sabemos que os sete candelabros representam as sete igrejas. A maneira como ele se identifica, nos leva a concluir que o remetente é Jesus. Logo, Jesus é aquele que anda entre os candelabros. Com isso, concluímos que Jesus conhece a igreja bem como as suas obras. É por isso que Ele repete às igreja "conheço as tuas obras..."

Uma das coisas que o ser humano aprende a fazer desde criança é dissimular. Nos especializamos de tal modo que logo começamos a mentir para nós mesmos. E, como precisamos nos convencer de nossas próprias mentiras, praticamos contando-as aos outros. Muitas vezes chegamos a estar sinceramente enganados a respeito de nós mesmos. Não conseguimos mais ter uma opinião ou um conceito saudável a nosso próprio respeito. Quando isso acontece, só um relacionamento com alguém que verdadeiramente nos ama e que ainda nos enxerga como de fato somos é capaz de nos salvar. Alguém que possa dizer a verdade a nosso respeito sem bajulações ou espírito de competição. Sem puxar o saco, mas também, sem querer nos desqualificar. Alguém que nos chama à realidade e nos desafia para algo novo.

Ter um conceito falso a respeito de si mesmo pode acontecer com pessoas, grupos, empresas, países e até igrejas. Acontecia com a igreja de Laodicéia: "Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu" (Apocalipse 3.17). Somente alguém que conhece esta comunidade, que anda entre as igrejas pode conhecê-la tão bem. E, o Cristo, o cabeça da igreja, aquele que deu a sua vida por amor, possui a autoridade e o conhecimento para uma afirmação tão corajosa.

Quantas vezes deixamos de dizer aos nossos amigos a verdade sobre eles por medo de perder a amizade? No entanto, quem ama de fato, corre o risco. Pois o verdadeiro amor não tolera a mentira. É por isso que as mensagens às igrejas trazem também o convite "arrependa-se..."

Arrependimento implica cair em si, dar-se conta do erro, do engano, do equívoco. E, dispor-se a dar meia volta, mudar o rumo, ajeitar-se, começar de novo. Eis a oportunidade que Deus nos concede todos os dias.