quinta-feira, 22 de abril de 2021

Quem é o Seu Ananias?

 

Há quase dois mil anos atrás, numa região distante de nós, vivia um homem enérgico e falador. Porém, não era muito atraente e, por suas origens, costumava ser desprezado. Sua vida consistia em viajar de cidade em cidade, enfrentando muitos perigos e ameaças para anunciar uma poderosa mensagem capaz de transformar vidas. Mas, nem sempre foi assim.A história de Paulo começou como Saulo. Cresceu numa casa onde aprendeu, desde criança, a se localizar em diferentes textos. A Torá, que conhecemos hoje como os primeiros livros da Bíblia, logo lhe foi apresentada. Coisa comum numa antiga casa judaica. Uma casa onde havia a prática de orações e a celebração das festas tradicionais de seu povo. Saulo cresceu como um religioso que se empenhava com zelo por sua tradição. 

Como costuma acontecer nas religiões, o judaísmo da época apresentava suas próprias linhas de pensamento. Saulo caminhou por uma proposta mais zelosa, mais radical, empenhada em garantir um judaísmo puro, fiel à Torá. Para isso, os ímpios teriam que ser duramente combatidos. Para o zelo religioso de Saulo de Tarso, o movimento em torno de um tal Jesus era algo perigoso demais e deveria ser combatido. As coisas espalhadas por homens como Estevão eram considerados um verdadeiro veneno, perigoso demais para ser tolerado. Saulo assiste impassível seus homens apedrejarem até a morte aquela ameaça ao Templo de Jerusalém. As coisas, porém, ainda se complicam muito mais. Imagine que os seguidores daquele galileu, agora, já se agitam anunciando que o crucificado ressuscitou. 

Saulo se empenhava com todo o seu zelo contra esta ameaça ao Templo de Jerusalém. Os primeiros cristãos logo ouviriam falar do impiedoso perseguidor que percorria os vilarejos atrás dos seguidores do Caminho. Não era fácil para eles acreditarem que aquele homem implacável havia mudado. Saulo se torna Paulo quando compreende que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó finalmente fez aquilo que sempre dissera, como aparece na tradição. Paulo entende que a Escritura se cumpre. Sim, ela se cumpre como talvez nem mesmo o zeloso e estudioso Saulo poderia imaginar. 

O impacto daquele evento na estrada de Damasco fez com que o homem iluminado, conhecedor meticuloso das leis, de repente se visse cego, ofuscado por uma realidade que mudaria o mundo. Saulo é tomado pela mão pelos companheiros. Precisa se deixar conduzir para algo novo que estava para se descortinar diante dele. A quem caberia o desafio de ser o mentor nesta nova fase da vida de Saulo? 

Enquanto as coisas aconteciam na estrada de Damasco, Deus já orientava um homem chamado Ananias, encarregado de introduzir Saulo em diversos temas que modelarão sua vida e sua obra daí para frente. Como é característico dos discípulos fiéis e obedientes, Ananias segue para cumprir aquilo que Deus lhe pede. Com alguma ansiedade, preocupação e nervosismo, é verdade, mas, ele segue em frente a fim de cumprir a missão. Encontra Saulo orando e o saúda. Chama-o de irmão. Depois de três dias de turbulência e cegueira, Saulo é apresentado ao seu mentor. Aquele que o ajudaria e o guiaria para uma nova jornada. Surge Paulo. Algo como escamas caem de seus olhos. É batizado. Ele está preparado para passar alguns anos sendo moldado para um novo desafio. 

Paulo é autor de boa parte daquilo que hoje conhecemos como o Novo Testamento. Foi um instrumento precioso nas mãos de Deus a espalhar o Evangelho no mundo antigo. Sua influência e seus escritos atravessaram os séculos e causam impacto ainda hoje, como poucos escritos são capazes. Assim, Deus continua conduzindo a história por meio de homens e mulheres que, de repente, se dão conta de que algo maior está acontecendo. O risco é interpretarmos os tombos pelo caminho como meros acidentes ocasionais. 

Chega o momento em nossas vidas em que precisamos nos deixar conduzir e orientar para novos desafios. Deus usou o apóstolo Paulo de forma tremenda para mudar a vida de muitas pessoas. Antes, porém, existiu um Ananias que estava disposto a se deixar usar por Deus para abençoar a vida de Paulo. Todos nós, em nossa jornada, precisamos de pessoas dispostas a nos tomar pela mão, e caminhar conosco, indicando e orientando os rumos. Quem é o seu Ananias? 
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Leia a cativante reconstrução da vida do apóstolo Paulo feita pelo mais importante teólogo do Novo Testamento da atualidade, N. T. Wright:  



quarta-feira, 21 de abril de 2021

O Que Fazer Enquanto Jesus Não Volta?

Se o que importa mesmo é o céu, para onde os cristãos acreditam que irão, um dia, o que estamos fazendo aqui ainda? 

Céu. Eternidade. Reino de Deus. Será que sabemos mesmo do que estamos falando quando mencionamos essas coisas? Quando, afinal de contas, começa esse tal reino de Deus? 

Se o propósito de Deus é que os cristãos herdem e vivam em seu reino, o que nós ainda estamos fazendo aqui? 

Há quem não acredite que eu esteja fazendo uma pergunta dessas. Afinal de contas, a resposta para tudo isso é evidente: 'nossa missão aqui é o de evangelizar. Garantir que o máximo de pessoas se convertam e possam, também irem para o céu'. 

Sim. Evangelizar é parte da chamada grande comissão: 

"vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei" (Mateus 28.19,20) 

Pensando bem, o que Jesus ordenou é mais amplo do que 'evangelizar'. Na verdade, o que ele manda a igreja fazer, no texto de Mateus, é discípulos: "façam discípulos". 

Discípulo faz discípulo. E, mais o que? Afinal de contas, vivemos num determinado momento histórico, temos família, fazemos parte de uma sociedade, existe toda uma realidade social, política e econômica. 

Como os discípulos de Jesus devem lidar com tudo isso? Será que a Palavra de Deus tem algo a nos dizer a respeito? 

Parte integrante do discipulado é aprender sempre. Uma das coisas que Jesus mais fazia em seu relacionamento com os doze discípulos era lhes ensinar, reorientar o seu entendimento das coisas. 

As parábolas de Jesus apontavam para o reino de Deus. Por isso, acreditamos que elas contém muito ensinamento precioso para a igreja, os discípulos de Jesus hoje. 

O que a famosa parábola dos talentos (Mateus 25.14-30 ) teria a nos ensinar a respeito de como os cristão devem viver enquanto aguardam o retorno de Cristo?
 

terça-feira, 20 de abril de 2021

O que é o Evangelho? O que o Evangelho NÃO é?

Muitas vezes, para sabermos o que é uma determinada coisa, é importante sabermos também o que esta coisa não é. 

Quando se trata do Evangelho de Jesus Cristo esta é uma verdade importante. A palavra 'evangelho' é amplamente utilizada nos dias atuais. Abusada, desgastada, distorcida, banalizada. Em muitos casos, tem se colocado o significado mais conveniente. 

O que é o Evangelho, afinal? 

Não. Evangélico não é um termo utilizado somente por uma igreja evangélica. Aliás, sequer existe uma igreja evangélica homogenia como muitos, talvez, chegam a pensar. 

Evangelho também é algo mais do que uma maneira de se referir aos quatro primeiros livros do Novo Testamento: os Evangelhos. 

Como poderíamos definir o que é o Evangelho? 

Seria uma mensagem? 

Será que podemos afirmar que toda mensagem, toda pregação que acontece nos templos cristãos todos os dias ao redor do mundo, seria o Evangelho? 

A esta altura alguém já respondeu: Evangelho é boa nova, é boa notícia

A resposta está correta. Ainda assim, alguém poderia questionar: Mas, afinal, qual é a boa notícia? E, por que ela é boa? 

Em tempos de banalização e de testemunhos duvidosos, cabe a reflexão: o que é o Evangelho? 

Os vídeos abaixo se propõe a resgatar a compreensão bíblica daquilo que é o conteúdo do Evangelho. Incluímos também outro vídeo para afirmar aquilo que o Evangelho NÃO é como recurso útil para depurarmos a nossa compreensão.

 

domingo, 18 de abril de 2021

Sacerdócio Geral de Todos os Cristãos

O que significa testemunhar o Evangelho? 

A compreensão do testemunho do Evangelho costuma ser reduzida a falar diretamente de Deus, citar versos da Bíblia, até mesmo convidar pessoas para a programação da igreja. 

Felizmente, é muito mais do que isso. Quando nos referimos ao Evangelho, então, sim, é fundamental que utilizemos palavras. O Evangelho precisa ser anunciado, precisa se pregado para que as pessoas o conheçam em termos daquilo que Deus, por meio de Jesus Cristo, realizou. 

O testemunho cristão, no entanto, vai muito além de uma religiosidade que se manifesta esporadicamente na vida do crente. A presença da igreja no mundo consiste em que ela seja uma benção para todas as pessoas, para toda a criação de Deus. 

Em Martim Lutero encontraremos isso na formulação do sacerdócio geral de todos os cristãos. Trata-se de um preceito bíblico, coerente com a revelação das Escrituras.

Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz

(1 Pedro 2.9)


Infelizmente, também o sacerdócio geral acabou, para muitos, sendo reduzido em seu significado. Assim, passou a ser compreendido como a possibilidade de membros da igreja participarem dos serviços religiosos no templo. Não somente os clérigos como pastores e padres ordenados, mas, todo e qualquer membro estaria autorizado a assumir tarefas na condução dos trabalhos e atividades da igreja. 

Diante de tal reducionismo carecemos de resgatar o verdadeiro sentido do sacerdócio geral bem como do chamado e missão da igreja para ser uma fiel testemunha enquanto povo de Deus neste mundo.

  Acompanhe um vídeo que fizemos a respeito do tema:

sábado, 17 de abril de 2021

O Mundo Não Vai Acabar

Volta meia aparece alguém anunciando o fim do mundo. O fato de ainda estarmos aqui é porque os arautos do apocalipse tem uma coisa em comum: todos estavam mentindo. 

Por falar em apocalipse e fim do mundo, o livro da Bíblia que chamamos de Apocalipse é um dos que mais as pessoas evitam. As razões são, basicamente, duas: primeiro porque consideram que é um livro difícil de entender e; segundo, o medo que as pessoas tem a respeito do que vão encontrar lá. 

Mas, e se eu te disser que todas as previsões sobre o fim do mundo vão continuar falhando? 

O medo que temos a respeito das coisas catastróficas que anunciam um possível fim do mundo está baseado em muitos equívocos. Infelizmente, além de todas as falsas previsões que ajudam a aterrorizar as pessoas, há também muitos cristãos que ajudam a disseminar falsas profecias. 

De todas as doutrinas cristãs, talvez a escatologia, que trata a respeito das coisas do fim, seja a mais controversa. 

O que é escatologia, afinal? 

Mais do que simplesmente uma doutrina do fim do mundo, trata-se da consumação dos propósitos de Deus para a sua Criação. 

Engana-se quem acha que apocalipse, armagedon, escatologia, fim do mundo e coisas do tipo sejam temas exclusivos das religiões. O mundo da ficção científica, da ciência e da filosofia também apresentam suas narrativas em torno do tema. 

Não se engane, com todo esse período de pandemia mundial em torno da COVID o tema do fim do mundo retornou com força em todos os círculos. O oráculo do Google nunca ofereceu tantas respostas e teorias para tantas pessoas que ali buscaram alguma informação. 

O motivo de existirem tantas previsões e tanto sensacionalismo é porque nós, os seres humanos, gostamos desse clima de tensão e iminência de algo novo que estaria por acontecer. 

Diante de toda especulação e das teorias da conspiração, no entanto, a segurança está na compreensão bíblica a respeito de como e para onde Deus está conduzindo todas as coisas. 

Portanto, não, o que a Bíblia ensina é que o mundo não vai simplesmente acabar. Temos algo mais a dizer sobre isso. Nos acompanhe no vídeo:

quinta-feira, 15 de abril de 2021

Missão Não é Pra Mim!

Existem três maneiras de você se envolver com a missão: 

indo, orando e contribuindo.

Você também já escutou essa frase?

Preciso confessar que ela sempre me incomodou. No entanto, demorou um tempo até que eu realmente conseguisse perceber o problema.

Muitos cristãos apaixonados pela evangelização, empolgados com a missão e que se alegram em ver vidas sendo transformadas sentem-se como se a missão não fosse para elas.

Eventos com o tema 'missão' acontecem aos milhares todos os anos. O foco, geralmente, é algum país ou região distantes. A palestra fica com o missionário que está servindo em algum lugar exótico do planeta. Então, ele compartilha das suas aventuras no campo missionário.

A platéia fica maravilhada. Muitos sentem o desejo de participar daquilo que Deus está fazendo. O desafio acontece. Como você se envolverá com a missão?

Ao final, a sensação que fica é que tudo não passou de um evento de marketing e propaganda. O objetivo era fazer a igreja se sentir desconfortável e, até mesmo culpada por não orar mais, não contribuir mais e, especialmente, viver sua vida 'normal' num lugar confortável.

Por mais que este reflita um paradigma superado, ainda é a realidade em muitos igrejas.

Algumas igrejas locais, para apaziguar a consciência dos mais entusiasmados, criam grupos, secretarias, departamentos, agências missionárias. Se você não pode ir, seja por falta de vocação ou por medo, pode se envolver localmente. Como? Orando e contribuindo financeiramente para sustentar os missionários de verdade que se arriscam em lugares distantes.

Se você também sente certo desconforto com tudo isso, saiba que não está só.

O que há de errado nesse sistema?

Seria um erro orar pela missão e pelos missionários? Certamente que não.

Seria errado, então, auxiliar financeiramente pessoas que se dedicam à missão em outros lugares? Não. Nada de errado nisso.

O problema está no reducionismo que esse paradigma assume. Leva muitas pessoas, cerca de 99% das igrejas locais, a acreditarem que missão é coisa para alguns poucos especialistas. Restaria para essa ampla maioria se contentar em orar e contribuir. E, vamos ser sinceros, quantas pessoas realmente oram e contribuem?

Se o missiólogo David Bosch estiver certo e, como ele disse, “toda a existência cristã deve ser caracterizada como existência missionária”, o que haveria além de ir, orar e contribuir? 

 Convido você a assistir esse breve vídeo que produzimos abordando a diferença entre Missão e Missões:


sábado, 10 de abril de 2021

Igreja e Fake News*

Geralmente as pessoas relacionam as notícias falsas à era digital da internet e das redes sociais. No entanto, vamos mais devagar, pois aí já podemos estar acreditando em algo que não corresponde totalmente à verdade. Quem cria e propaga notícias falsas somos nós, as pessoas. Os meios podem até facilitar o processo, no entanto, há sempre alguém operando. A realidade é que notícias falsas são coisa muito antiga. Não precisamos atualizar o vocabulário ou importar estrangeirismos para compreendermos aquilo que realmente queremos dizer com Fake News. Trata-se, tão somente, da velha e bem antiga mentira. 


A primeira Fake News da história é relatada pela bíblia. O primeiro casal que Deus colocou no jardim recebeu orientações claras a respeito da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gênesis 2.17). No entanto, a serpente veio colocar em dúvida as orientações de Deus. Quando, finalmente, o clima de suspeita estava instalado, veio a mentira: “Certamente não morrerão!” (Gênesis 3.4). Depois disso, a história da humanidade passou a ser marcada pela mentira, fofocas, boatos, calúnias e dissimulação. Isaías tinha clareza quanto ao mal que a língua pode produzir: “as suas mãos estão manchadas de sangue, e os seus dedos, de culpa. Os seus lábios falam mentiras, e a sua língua murmura palavras ímpias. Ninguém entra em causa com justiça, ninguém faz defesa com integridade. Apoiam-se em argumentos vazios e falam mentiras; concebem maldade e geram iniquidade” (Isaías 59.3-4). 

O termo Fake News tornou-se mais popular a partir das eleições americanas que elegeu Donald Trump presidente dos Estados Unidos em 2016. Mas, entrou definitivamente no vocabulário brasileiro em 2018. Assim, Fake News geralmente aparece associado a uma estratégia política utilizada em campanhas eleitorais. Consiste, basicamente, em criar e disseminar notícias falsas com intuito de gerar uma rejeição contra determinado candidato. Contextos políticos polarizados como foram as eleições presidenciais nos Estados Unidos e no Brasil, favorecem esse tipo estratégia. Isso porque a eleição costuma ser decidida não tanto pelo voto na melhor opção, mas, sim, no “menos pior”, ou seja, a eleição se decide com base na menor rejeição. As Fake News, portanto, fazem o papel de destruir ao máximo a reputação de alguém com o objetivo de gerar no eleitor a maior rejeição possível. Mas, não podemos nos restringir ao contexto político. É conhecido o efeito das Fake News também na área da saúde, da economia, da educação, das famílias e até mesmo da igreja. Vacinas são postas em dúvida quanto à sua eficácia; informações são criadas para impulsionar o preço de produtos e influenciar a bolsa de valores; a história é recontada segundo a versão que interessa a determinada ideologia; casais brigam e até se separam por causa de fofocas; líderes e pastores tem a reputação destruída por inveja e vaidade. 

Ao rejeitar o conselho e orientação de Deus, Adão e Eva deram início a tudo que acompanhamos e vivemos hoje em termos de mentiras e boatos. Se as pessoas criam e propagam notícias falsas, temos hoje uma tecnologia disponível que torna tudo mais rápido e fácil. Enquanto antigamente se observava da janela os acontecimentos e passava-se adiante a interpretação dos fatos de boca em boca, hoje, com grupos de Whatsapp e redes sociais, a fofoca foi elevada a um novo nível. É impressionante a criatividade e o tempo disponível para a criação de notícias falsas. Grandes interesses ocultos fazem com que haja pessoas dedicadas que, inclusive, são pagas exclusivamente para passarem o dia criando boatos que serão propagados na internet. Isso é possível porque sabem que milhões de pessoas estão prontas a passar adiante qualquer coisa que receberem sem se darem o trabalho de verificar a credibilidade da informação. 

Uma das coisas que facilitam a proliferação das Fake News é que elas parecem não ter origem. É muito difícil saber quem criou e de onde partiu. Outra característica desses boatos é que favorecem um clima de ‘nós contra eles’, ou seja, procura identificar os bandidos e os mocinhos do mundo. Como as pessoas, de modo geral, gostam de coisas espetaculares, caímos facilmente na tentação de compartilhar algo sem checarmos antes a veracidade da informação. Também gostamos de parecer atualizados e queremos ser os primeiros a informar amigos e familiares. E, claro, como nós gostamos de nos meter na vida alheia! Assim, tecnologia aliada à nossa natureza caída desenfreada constituem terreno fértil para todo tipo de boataria, calúnia e mentiras. Pode ser que nem tenhamos a intenção, mas, inadvertidamente compartilhamos adiante algo que, por não pararmos antes para refletir e questionar, está destruindo a reputação de alguém. 

Precisamos ser bem claros, portanto. O próprio Jesus também foi vítima das Fake News. Havia tantos boatos e acusações contra Jesus que em certo momento ele foi tirar a dúvida com os discípulos mais próximos: “E vocês, o que dizem?”, perguntou. “Quem vocês dizem que eu sou?” (Lucas 9.20). Jesus tinha uma posição muito clara frente às mentiras e à boataria. Ele reconhecia a fonte dessas coisas: "Vocês pertencem ao pai de vocês, o diabo, e querem realizar o desejo dele. Ele foi homicida desde o princípio e não se apegou à verdade, pois não há verdade nele. Quando mente, fala a sua própria língua, pois é mentiroso e pai da mentira” (João 8.44). O cristão, portanto, não só cuida para não criar mentiras e boatos como também cuida com aquilo que passa adiante. Existem meios para checar as fontes da informação e evitar que passemos adiante mentiras que destroem a vida de outras pessoas. 

Se, por um lado, é verdade que a mentira primordial levou a humanidade à queda, é fato também que a verdade irrompeu na história na pessoa de Jesus Cristo. A igreja, portanto, é um corpo de pessoas redimidas, cheias do Espírito Santo de Deus, capacitadas a imprimirem um novo rumo para suas vidas. Esse discernimento e compromisso com o Senhor da verdade faz de nós pessoas comprometidas com a verdade. Não podemos tolerar a mentira. Não podemos fazer de nossos perfis nas redes sociais, de nossas conversas pelo Whatsapp, algo dissociado de nossa identidade cristã. Não há espaço para uma vida paralela, por mais que o mundo virtual nos iluda quanto a isso. Pecado continua sendo pecado mesmo que atualizem a forma de se referir aos seus efeitos. O diabo que Jesus identifica como sendo o pai da mentira é o mesmo que hoje é o pai das Fake News. 

Existem apenas duas opções ao cristão: servir à verdade ou à mentira. Servir ao Senhor da verdade ou permanecer escravo do pai da mentira. “Aquele que pertence a Deus ouve o que Deus diz”, afirmou Jesus (João 8.47). Portanto, um cristão jamais se sujeita a ser um criador de notícias falsas, seja qual for a motivação. Se esta parece ser uma questão óbvia, a outra, parece não ser. Trata-se da propagação da boataria mentirosa. A pressa por dar o “furo” na notícia, a motivação por vezes sincera de alertar o outro contra algo aparentemente perigoso, o desejo de parecer engraçado e bem-humorado, e, sim, um desejo secreto de prejudicar alguém, podem surgir como armadilhas em nosso caminho. Além de contribuirmos para o mal, ao compartilhar notícias falsas podemos estar prejudicando o alvo da calúnia e também muitas outras pessoas que, assim como eu, estarão sendo usadas como canais de propagação da mentira. 

Existem muitos e grandes interesses por trás das notícias que circulam nas redes sociais e também nos grandes veículos da mídia. Nem sempre sabemos como nos posicionar em meio a esta verdadeira guerra de informações e narrativas. As Escrituras, no entanto, ainda nos servem de inspiração e apresentam princípios claros. Ao receberem a palavra, os bereanos examinavam tudo para ver se conferia com as Escrituras (Atos 17.11). Este exemplo pode se aplicar também quanto às notícias que a internet lança diante nós. Existem meios para investigarmos os fatos. O próprio Deus já preveniu quanto ao que se espera de seu povo frente às Fake News: "Não darás falso testemunho contra o teu próximo” (Êxodo 20.16). Na dúvida: “Excluir”. Se ainda estamos aprendendo a lidar com todas as novas tecnologias da informação, uma lição importante para começar é que nem tudo precisa ser compartilhado. 

 * Texto originalmente publicado na Revista MOSAICO, ano 04, nº 08 - março de 2019. Uma publicação semestral do sínodo Centro-Sul Catarinense (IECLB).

domingo, 21 de março de 2021

Uma Palavra aos Pastores

Você é pastor? Temos uma palavra a dizer para você que é pastor! 

Você conhece bem as cartas aos Coríntios. Certamente já pregou sobre elas. 

A igreja de Corinto era uma igreja difícil, para dizer o mínimo. Eles estavam divididos. Eles eram carnais. Eles toleravam o pecado. Eles viviam em disputas entre si. Eles discutiram sobre a liberdade cristã, os dons espirituais e a ressurreição. Polêmica era com eles mesmos. 

Talvez esta igreja fosse aquele tipo que a maioria de nós NÃO gostaria de pastorear. Bem, talvez, alguns de nós, por outro lado, gostemos de desafios. E é exatamente esse tipo de igreja que gostaríamos de encarar. 

Quem sabe, você esteja liderando uma igreja que tem seus próprios problemas semelhantes. Há dois breves trechos da primeira carta de Paulo aos Coríntios que gostaríamos de destacar. Um do começo e outro do fim da carta: 

"Sempre dou graças a meu Deus por vocês, por causa da graça que lhes foi dada por ele em Cristo Jesus. Pois nele vocês foram enriquecidos em tudo, em toda palavra e em todo conhecimento, porque o testemunho de Cristo foi confirmado entre vocês, de modo que não lhes falta nenhum dom espiritual, enquanto vocês aguardam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja revelado. Ele os manterá firmes até o fim, de modo que vocês serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor" 1 Coríntios 1.4-9 

"Recebam o amor que tenho por todos vocês em Cristo Jesus. Amém" 1 Coríntios 16.24 

Paulo começa esta carta expressando gratidão: “Estou grato a Deus por vocês” e, em seguida, fecha a carta dizendo “Eu amo muito todos vocês”. 

Assim Paulo abre e fecha a sua carta. A maioria de nós, talvez, diria algo diferente para esta igreja: "Vocês são uma grande bagunça". E, seria verdade. Eles estavam bagunçados em suas vidas, relacionamentos, testemunho. A imoralidade era outra marca na vida daquelas pessoas. 

Mas essa bagunça não determinou a palavra de Paulo. Pela graça de Deus, ele manteve seu foco na gratidão e no amor. Quando você faz isso, você pode suportar muitas confusões na igreja - e mostrar a graça transformadora de Deus na maneira como você lidera e ama sua congregação, sua comunidade, a sua igreja local, que você foi chamado a servir. 

Devemos lidar com os problemas, mas a gratidão e o amor superam a tristeza e a frustração. 

Que a gratidão e o amor sejam a marca do teu ministério. 
Deus te abençoe e, seja você, uma benção!

sexta-feira, 12 de março de 2021

O Drama das Escrituras

 
No livro O Drama das Escrituras, os autores propõe um olhar sobre a Bíblia seguindo uma estrutura como a da dramaturgia. Assim, eles propõem um olhar a partir de seis atos. 
(1) O primeiro ato nos fornece informação contextual essencial, apresenta os personagens importantes e estabelece a situação estável que será interrompida pelos acontecimentos que estão prestes a se desenrolar. (2) A primeira ação começa, geralmente com a introdução de um conflito significativo. O meio da peça (3) é a parte em que a ação principal do drama ocorre. Aqui o conflito inicial se intensifica e se torna cada vez mais complicado até (4) o clímax, ou o ponto de maior tensão, após o qual conflito precisa ser resolvido, de um modo ou de outro. Após o clímax vem (5) a resolução, em que as implicações do ato do clímax são elaboradas para todos os personagens do drama e a estabilidade é restaurada. 

Os autores, no entanto, ampliam o entendimento tradicional da dramaturgia em cinco atos incluindo mais um. Eles entendem que ainda há muito mais por vir. 

Assim, o drama bíblico é apresentado da seguinte maneira: 

Ato 1: pontos Deus estabelece o reino: criação 
Ato 2: pontos rebelião no reino: queda 
Ato 3: o rei escolhe Israel: a redenção é iniciada 
Ato 4: a vinda do Rei: Redenção realizada 
Ato 5: propagando a notícia do Rei: a missão da igreja 
Ato 6: A Volta do Rei: Redenção concluída. 

Esta é a maneira que o livro está dividido e se apresenta no sumário.

Venha ler conosco!

quinta-feira, 11 de março de 2021

Pastor: [quase] tudo o que você precisa para continuar a pastorear a igreja em tempos de pandemia

Faz um ano que o Brasil parou. 

Nunca um ano passou tão rápido e, ao mesmo tempo, tão devagar. 

O sentimento é de um déjà vu. Março de 2021 ou março de 2020? Onde estamos? Que diferenças há?

Entramos o mês com aquela sensação de estarmos num grande 'looping'. 

A angústia de muitos pastores e líderes de ministério está em não poder realizar os programas rotineiros da igreja. Sem cultos, sem encontros, longe das pessoas. 

Talvez encontremos aqueles que estejam até felizes com isso. Mas, não vamos focar nestes. 

A saída logo encontrada foi o de seguir para a internet. Muitos investiram em equipamentos eletrônicos, outros precisaram contratar um plano de internet melhor, sem falar no desafio de falar para uma câmera ou um smartphone. Sem ver as pessoas, suas expressões e reações, o sentimento é de frustração. Ainda assim, há que se fazer algo. 

Não dá pra simplesmente esperar que as coisas voltem ao normal. Surgiram os cultos online, criou-se polêmica em torno da Santa Ceia virtual, logo a igreja estava na rede. 

Muitos pastores descobriram que este não é um mundo tão amistoso. A lógica comunicacional nas redes é um desafio à parte. Os membros já tinham suas preferências quando se tratava de mensagens e músicas via meios eletrônicos. Já havia aqueles ministérios e pastores pop que se utilizavam da internet, com textos em sites e blogs, vídeos em canais diversos, aplicativos variados. Tudo bem feito, com bastante empenho e profissionalismo. Por que agora esses membros deixariam estas opções para "consumirem" programas amadores, vídeos mal editados, áudios ruins, tudo feito em ambientes improvisados, em "estúdios" com luz deficitária? 

Difícil. 

Onde estaria o erro? 

Ouso dizer que o erro está na consciência da vocação pastoral. 

Pastor pastoreia

Se concordamos nisso precisaremos partir da pergunta correta: Como pastorear em tempos de distanciamento social? 

Boa parte do que conhecemos como o Novo Testamento, na Bíblia, são cartas de Paulo que procurava, de alguma maneira, pastorear e ensinar os cristãos nas pequenas comunidades que surgiam na época. Algumas dessas cartas, como Filemon, Filipenses, Colossenses e Efésios foram escritas enquanto o apóstolo encontra-se preso. 

Embora, diferentemente dos camponeses que acompanhavam Jesus, Paulo fosse um intelectual instruído pelos rabis, seu coração pastoral se revela como em passagens como esta: 

"Deus, a quem sirvo de todo o coração pregando o evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como sempre me lembro de vocês em minhas orações; e peço que agora, finalmente, pela vontade de Deus, seja-me aberto o caminho para que eu possa visitá-los" (Romanos 1.9-10) 

Nada substitui o encontro presencial, o abraço, o tom na voz, a expressão facial, o estar ali, por inteiro. Há circunstâncias, porém, que impedem que as coisas sejam sempre como nós gostaríamos que fossem. 

O equívoco, embora a motivação estivesse correta, talvez tenha sido, no caso de muitos, apostar tudo naquilo que os outros estavam fazendo. A busca por modelos frente a emergência de continuar, apesar do lockdown, fez com que muitos líderes e pastores se aventurassem num mundo que lhes era estranho. As referências existentes não estavam lá por causa de uma pandemia. Elas já estavam lá antes disso. Fazia parte de outro tipo de estratégia, outra leitura de realidade.
 

Cabe, portanto, a pergunta: 

Como pastorear em tempos de distanciamento social? 

Sem nos darmos conta, talvez, agimos motivados pelas perguntas erradas: 
O que fazer agora? 
Como mostrar serviço quando os templos estão fechados? 
Como continuar justificando a minha subsistência? 
O que fazer para não deixar os membros na mão? 

A pergunta correta é: como pastorear em tempos de distanciamento social? 
Como continuar presente na vida das pessoas, ouvindo suas dores, aconselhando em momentos de crise, orando com elas e por elas? 
Como continuar capacitando ou preparando "os santos para a obra do ministério"? (Efésios 4.12). 

Sim, pastorear é a palavra chave. Se você preferir, pode assumir também o pastorear na dimensão do cuidado: como cuidar de pessoas em tempos de crise e de isolamento social? 

Permitam-me começar a responder esta questão lembrando o desafio da empatia. Colocar-se no lugar dos membros da igreja pode ser de grande auxílio. 
O que eles já tem a sua disposição, independentemente da pandemia e do isolamento social? 
Internet, conteúdos diversos, computadores, smartphones. Tudo isso já estava e continua presente sem qualquer interferência. O que a pandemia pode ter causado é o acesso a novos conteúdos. Mas, não vamos nos iludir, nossas mensagens e 'cultos online' não representaram nenhuma novidade para a maioria deles. Para aqueles de nós que só, agora, às pressas, tivemos que desbravar este mundo virtual, entramos numa concorrência pra lá de desleal. 

A pergunta, portanto, precisa ser pelo que os membros não tem neste momento. Aquele membro que escuta e, talvez, auxilia financeiramente, algum pastor ou ministério que ele acompanha pela televisão ou pela internet, quando precisa de uma visita, um aconselhamento, uma palavra de esperança para o momento de luto, a quem ele recorre? 
Será que aquilo que falta aos membros nesse momento de crise não é a mesma coisa que já faltava antes? 
Se você é um pastor diligente, independentemente da crise do novo coronavírus, já tinha o endereço, número de telefone e de WhatsApp dos membros da tua igreja local. Com um ano de paralisações, quantas vezes você já ligou para cada um dos membros que você tem sob os teus cuidados? 

Escutar a voz do pastor, ouvir uma palavra direta, um contato exclusivo, tem muito valor. Talvez a pessoa até se surpreenda. Você, então, começará a conversa de modo bem natural: "Eu liguei para saber como vocês estão!"

A maioria de tudo aquilo que os pastores e as igrejas tem produzido para suprir a necessidade ministerial pressupõe ouvidos atentos. Como emprestar nossos ouvidos à escuta 'de lá pra cá' é o verdadeiro desafio!